Prezado João Luiz, Salve Maria.
Obrigado por sua pergunta, e pela confiança em nosso humilde trabalho.
A bíblia protestante tem apenas 66 livros porque Lutero e, principalmente os seus seguidores, rejeitaram os livros de Tobias, Judite, Sabedoria, Baruc, Eclesiástico (ou Sirácida), 1 e 2 Macabeus, além de Ester 10,4-16; Daniel 3,24-20; 13-14. A razão disso vem de longe...
No
ano 100 da era cristã os rabinos judeus se reuniram no Sínodo de Jâmnia (ou
Jabnes), no sul da Palestina, a fim de definirem a Bíblia Judaica. Isto porque
nesta época começava a surgir o Novo Testamento com os Evangelhos e as cartas
dos Apóstolos, que os Judeus não aceitaram.
Nesse
Sínodo os rabinos definiram como critérios para aceitar que um livro fizesse
parte da Bíblia, o seguinte:
*1-deveria
ter sido escrito na Terra Santa;*
*2-escrito
somente em hebraico, nem aramaico e nem grego;*
*3-escrito
antes de Esdras (455-428 a.C.);*
*4-sem contradição com a Torá ou lei de Moisés*
Esses
critérios eram nacionalistas, mais do que religiosos, fruto do retorno do
exílio da Babilônia. Por esses critérios não foram aceitos na Bíblia judaica da
Palestina os livros que hoje não constam na Bíblia protestante, citados antes.
Acontece
que em Alexandria no Egito, cerca de 200 anos antes de Cristo, já havia uma
forte colônia de judeus, vivendo em terra estrangeira e falando o grego. Os
judeus de Alexandria, através de 70 sábios judeus, traduziram os livros
sagrados hebraicos para o grego, entre os anos 250 e 100 a.C, antes do Sínodo
de Jâmnia (100 d.C). Surgiu assim a versão grega chamada Alexandrina ou dos
Setenta. E essa versão dos Setenta, incluiu os livros que os judeus de Jâmnia,
por critérios nacionalistas, rejeitaram.
Havia
então no início do Cristianismo duas Bíblias judaicas: uma da Palestina
(restrita) e a Alexandrina (completa – Versão dos LXX). Os Apóstolos e
Evangelistas optaram pela Bíblia completa dos Setenta (Alexandrina),
considerando canônicos os livros rejeitados em Jâmnia. Ao escreverem o Novo
Testamento usaram o Antigo Testamento, na forma da tradução grega de
Alexandria, mesmo quando esta era diferente do texto hebraico.
O
texto grego “dos Setenta” tornou-se comum entre os cristãos; e portanto, o
cânon completo, incluindo os sete livros e os fragmentos de Ester e Daniel,
passou para o uso dos cristãos.
Das
350 citações do Antigo Testamento que há no Novo, 300 são tiradas da Versão dos
Setenta, o que mostra o uso da Bíblia completa pelos apóstolos. Verificamos
também que nos livros do Novo Testamento há citações dos livros que os judeus
nacionalistas da Palestina rejeitaram. Por exemplo: Rom 1,12-32 se refere a Sb
13,1-9; Rom 13,1 a Sb 6,3; Mt 27,43 a Sb 2, 13.18; Tg 1,19 a
Eclo 5,11; Mt 11,29s a Eclo 51,23-30; Hb 11,34 a 2 Mac 6,18;
7,42; Ap 8,2 a Tb 12,15.
os
séculos II a IV houve dúvidas na Igreja sobre os sete livros por causa da
dificuldade do diálogo com os judeus. Finalmente a Igreja, ficou com a Bíblia
completa da Versão dos Setenta, incluindo os sete livros.
Por
outro lado, é importante saber também que muitos outros livros que todos os
cristãos têm como canônicos, não são citados nem mesmo implicitamente no Novo
Testamento. Por exemplo: Eclesiastes, Ester, Cântico dos Cânticos, Esdras,
Neemias, Abdias, Naum, Rute.
Outro
fato importantíssimo é que nos mais antigos escritos dos santos Padres da
Igreja (Patrística) os livros rejeitados pelos protestantes (deutero-canônicos)
são citados como Sagrada Escritura. Assim, São Clemente de Roma, o quarto Papa
da Igreja, no ano de 95 escreveu a Carta aos Coríntios, citando Judite,
Sabedoria, fragmentos de Daniel, Tobias e Eclesiástico; livros rejeitados pelos
protestantes.
Ora,
será que o Papa S. Clemente se enganou, e com ele a Igreja? É claro que não. Da
mesma forma, o conhecido Pastor de Hermas, no ano 140, faz amplo uso de
Eclesiástico, e do 2 Macabeus; Santo Hipólito (†234), comenta o Livro de Daniel
com os fragmentos deuterocanônicos rejeitados pelos protestantes, e cita como
Sagrada Escritura Sabedoria, Baruc, Tobias, 1 e 2 Macabeus.
Fica
assim, muito claro, que a Sagrada Tradição da Igreja e o Sagrado Magistério
sempre confirmaram os livros deuterocanônicos como inspirados pelo
Espírito Santo.
Vários
Concílios confirmaram isto: os Concílios regionais de Hipona (ano 393); Cartago
II (397), Cartago IV (419), Trulos (692). Principalmente os Concílios
ecumênicos de Florença (1442), Trento (1546) e Vaticano I (1870) confirmaram a
escolha.
No
século XVI, Martinho Lutero (1483-1546) para contestar a Igreja, e para
facilitar a defesa das suas teses, adotou o cânon da Palestina e deixou de lado
os sete livros conhecidos, com os fragmentos de Esdras e Daniel.
Sabemos
que é o Espírito Santo quem guia a Igreja e fez com que na hesitação dos
séculos II a IV a Igreja optasse pela Bíblia completa, a versão dos Setenta de
Alexandria, o que vale até hoje para nós católicos.
Espero
ter ajudado,
Ad
Majorem Dei Gloriam,
EDGAR
LEANDRO DA SILVA
*P.S Esta resposta poderá ser alterada*
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