Um dos missionários da devoção marial mais
conhecidos, incansável pregador da sagrada escravidão de amor a Maria
Santíssima, apóstolo da Contra-Revolução
Por Plinio
Maria Solimeo
Segundo dos 18 filhos do advogado João
Batista e de Joana Roberto de la Vizeule, Luís Grignion nasceu em 3 de janeiro
de 1673, em Montfort-la-Cane (hoje Montfort-sur-Meu), na Bretanha. Por devoção
a Nossa Senhora, no crisma acrescentou ao seu nome o de Maria.
Luís herdou do pai um temperamento
colérico e arrebatado, e dirá depois que "custava-lhe mais vencer sua
veemência e a paixão da cólera que todas as demais juntas". Mas
conseguiu-o tão bem, que um sacerdote seu companheiro, nos últimos anos de sua
vida, atesta que: "Realizou esforços incríveis para vencer sua natural
veemência; e o conseguiu, e adquiriu a encantadora virtude da doçura"(1),
que atraía tanto as multidões.
O pequeno Luís Grignion de Montfort
sentia também muito pendor pela solidão, sendo comum retirar-se a um canto da
casa para entregar-se à oração diante de uma imagem da Virgem, rezando
principalmente o Rosário.
Em 1684 os pais o enviaram a estudar
humanidades como externo no Colégio Tomás Becket, dos jesuítas de Rennes. Ali
passará ele oito anos, com muito bom aproveitamento.
Todos os dias, antes de ir para o
colégio, ele passava em alguma igreja para fazer uma visita ao Santíssimo
Sacramento e a alguma imagem de Nossa Senhora. Muitas vezes, antes de voltar
para casa, fazia o mesmo.
Amor
pelos pobres e vocação sacerdotal
Cresceu nele um desejo inato de ajudar
o próximo. Como diz um seu biógrafo, "seu bom coração, cheio de
misericórdia e de compaixão para com o próximo, o levava a ocupar-se em amparar
os escolares pobres que estudavam com ele no colégio. Não os podendo socorrer
com seus próprios recursos, ia solicitar para eles esmolas junto às pessoas caridosas".(2)
Foi isso que o levou a freqüentar um
grupo de jovens reunidos por um sacerdote, o Pe. Bellier, aos quais este fazia
palestras sobre temas piedosos, e os enviava depois aos hospitais para consolar
e instruir os pobres. Era junto destes que o adolescente Luís passava parte de
seus dias de folga.
Concluídos os estudos, decidiu
tornar-se sacerdote, dirigindo-se então a Paris. Fez a longa viagem a pé,
pedindo de esmola alojamento e comida.
Uma benfeitora obteve para ele que
entrasse no célebre seminário de Saint Sulpice. Depois de muitas vicissitudes, foi ordenado sacerdote em 1700.
Intensa
luta contra os jansenistas
Durante cinco anos não contínuos, o
Pe. de Montfort - como era conhecido - trabalhou na diocese de Poitiers, seja
como capelão do Hospital Geral, seja pregando missões nos arrabaldes da cidade,
combatendo as blasfêmias, canções obscenas e embriaguezes. No Hospital Geral
veio-lhe a idéia de formar uma associação de donzelas, que "dedicou à
Sabedoria do Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do
mundo e estabelecer entre elas a loucura do Evangelho".(3) Selecionou para
isso 12 das jovens pobres mais fervorosas, elegendo como sua superiora uma
cega. Mais tarde associou a esse grupo duas jovens da boa burguesia, a futura
beata Maria Luísa Trichet e Catarina Brunet. "A sabedoria que preconiza
Montfort se inspira, de um lado, na segunda carta de São Paulo aos Coríntios: a
cruz, escândalo e loucura para tantos sábios, mas sabedoria de Deus, misteriosa
e escondida".(4)
Entretanto os infeccionados pela
heresia jansenista - essa espécie de protestantismo disfarçado -, junto com os
livres pensadores, começaram uma campanha de calúnia contra esse missionário
"extravagante", que pregava uma "devoção exagerada" à Mãe
de Deus. Ele precisou dissolver sua associação da Sabedoria e retirar-se do
Hospital, apesar dos protestos veementes dos pobres e dos enfermos.
O Pe. de Montfort aproveitou essa
ocasião para fazer uma peregrinação a Roma. Na Cidade Eterna, pô-se à
disposição do Sumo Pontífice para trabalhar pela salvação das almas em qualquer
parte onde este o quisesse enviar. Clemente
XI julgou que o missionário seria mais útil em sua própria pátria, ensinando a
doutrina cristã às crianças e ao povo e fazendo reflorescer o espírito do
cristianismo pela renovação das promessas do batismo. O Papa nomeou-o
Missionário Apostólico. Mas estava ele sob a dependência dos bispos, muitos dos
quais de tendência jansenista.
Missionário
Apostólico em Nantes
Voltando à França, passou a trabalhar
com o Pe. Leuduger, que tinha um grupo de missionários dedicados totalmente à
evangelização do campo. Foi uma nova experiência para o Pe. Montfort, pois
constatou a importância do canto e das grandes procissões nos esforços
missionários. Ele escreverá várias dezenas de cantos populares, cujas letras se
adaptavam a melodias profanas, muito em voga então.
Seis meses depois, vemo-lo em sua
cidade natal, evangelizando a região, tendo associado a si dois leigos, um dos
quais será o Irmão Maturin Rangeard, que continuará por 55 anos evangelizando
como missionário leigo.
Mas esta atividade foi também proibida
a Luís Grignion pelo bispo de Saint Malo, por influência dos jansenistas.
Em Nantes ele obteve o cargo de
diretor das missões de toda a diocese, tendo ali trabalhado durante dois anos.
Dessa época temos o seguinte depoimento de um seu contemporâneo: "O que
mais se destacava nele era um dom e uma graça singular para ganhar os corações.
Tendo-o ouvido, punha-se nele toda confiança. [...] A confiança pronta e fácil
que as pessoas tinham nele era tão grande, que conseguiu estabelecer em várias
paróquias as orações da noite, o rosário e a sepultura nos cemitérios [contra o
costume de se enterrar nas igrejas]; o que não se tinha podido conseguir, [...]
ele o conseguiu na primeira proposta que fez".(5)
A
construção do Calvário de Pontchâteau
Numa missão em Pontchâteau, o Pe. de
Montfort entusiasmou-se com a idéia de erigir um grande calvário em uma colina
próxima, e seu entusiasmo contagiou o povo. Durante 15 meses, de 400 a 500
pessoas de todas as idades e condições sociais trabalharam diariamente para
aplainar o terreno e montar o calvário. O Pe. de Montfort estava exultante.
Tinha já conseguido do bispo de Nantes a autorização para benzê-lo, e estava
tudo preparado para o dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz.
Mas, à véspera desse dia, chegou uma proibição formal do bispo de se proceder à
cerimônia. O assunto levantou polêmica e chegou até Versalhes, onde, mal
informado, o rei Luís XIV ordenou que demolissem aquilo que lhe apresentavam
como uma fortaleza facilmente conquistável pelo inimigo vindo do mar...
Em seguida veio a proibição de pregar
naquela diocese.
Por sua devoção ao Rosário, o Pe. de
Montfort entrou para a Ordem Terceira de São Domingos, querendo pertencer a uma
Ordem que honrava de maneira tão especial a Santíssima Virgem.
Recusado e até expulso de várias
dioceses - uma vez lhe foi interditado até celebrar, tendo ele que partir
imediatamente para chegar em tempo à diocese vizinha, a fim de rezar a Missa na
festa da Assunção -, soube o missionário que seria bem recebido nas dioceses de
Luçon e de La Rochelle, cujos bispos eram meritoriamente antijansenistas.
Essas duas dioceses compreendiam uma
parte da região da Vandéia, que mais tarde, em 1793, levantar-se-ia contra a
sangrenta e atéia Revolução Francesa. Foi na Vandéia que o Pe. de Montfort trabalhou durante os últimos cinco anos de sua vida,
implantando naquelas populações uma sólida formação católica. Esta foi,
décadas mais tarde, um decisivo fator para a gloriosa e épica Guerra da
Vandéia, contra os ímpios revolucionários de 1789.
Carta
Circular aos Amigos da Cruz
Nessa região, após as missões, fundava
ele associações sob o nome de Irmãos e Irmãs da Cruz, para quem escreveu sua
belíssima Carta Circular aos Amigos da Cruz.
Na cidade de La Rochelle, onde ainda
pairavam os erros dos calvinistas, ele pregou sucessivamente para pobres,
soldados, mulheres e homens. Operou várias conversões, principalmente pelo
ministério da confissão, inclusive a de uma dama de qualidade que fez sua
retratação pública, para edificação dos católicos e horror dos protestantes.
Em 1714 ergueu os alicerces da futura
congregação de missionários, a Companhia de Maria.
O Pe. Grignion de Montfort pregava uma
missão em Saint Laurent-sur-Sèvre, quando foi acometido por uma pleurisia que o
levou ao túmulo, no dia 28 de abril de
1716.
São
Luís Grignion e a Contra-Revolução
São Luís Maria Grignion de Montfort
pode ser considerado um apóstolo da Contra-Revolução. Seus livros e escritos
inspiraram grandes vultos católicos no século XX, sobressaindo entre eles o
Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, grande devoto do admirável doutor mariano e
especial difusor de sua doutrina.
O livro
Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem orientou e conduziu no
caminho da perfeição muitas almas em todo o mundo. "A originalidade
maior de Montfort consiste, provavelmente, em ter descoberto Maria como
garantia de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se do apego
imperceptível que se esconde em suas melhores ações. Desapego que consiste,
provavelmente, na essência mesma da consagração em forma de
escravidão".(6)
E-mail
do autor: pmsolimeo@uol.com.br
__________
Fontes de referência:
(1) Pe. Louis Perouas, San Luis María
Grignion de Montfort, Obras, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1984,
Introdução, pp. 5 e 22.
(2) Les Petits Bollandistes, Vies des Saints,
d'après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo
XV, p. 320.
(3) Pe. Louis Perouas, op. cit., p. 11.
(4) Id. ib. p.
12.
(5) Pe. Coupperie
des Jonchères, in Louis Perouas, op. cit., p. 16.
(6) Louis Perouas, op. cit., p. 35. Obras também consultadas: Francesco Pappalardo, San Luigi Maria Grignion da Montfort (1673-1716), http://www.alleanzacattolica.org.; Austin Poulain, St. Louis-Marie Grignion de Montfort, The Catholic Encyclopedia, Volume IX, 1910, by Robert Appleton Company, Online Edition, Copyright © 2003 by Kevin Knight.
FONTE: REVISTA CATOLICISMO
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