domingo, 31 de agosto de 2025

VIDA DE SANTOS: SANTO ATANÁSIO

 




Santo Atanásio, coluna da Igreja

Plinio Maria Solimeo

 

Um dos maiores santos da História, odiado virulentamente pelos maus, foi entretanto muito amado por sua luta intrépida em defesa da Fé

"O século IV, a idade de ouro da literatura cristã, nos oferece em seus umbrais a figura gigantesca de Atanásio de Alexandria, o homem cujo gênio contribuiu para o engrandecimento da Igreja muito mais que a benevolência imperial de Constantino. Seu nome está indissoluvelmente unido ao triunfo do Símbolo de Nicéia"1, que ainda hoje rezamos.

"Há nome mais ilustre que o de Santo Atanásio entre os seguidores da Palavra da verdade, que Jesus trouxe à terra? Não é este nome símbolo do valor indomável na defesa do depósito sagrado, da firmeza do herói face às mais terríveis provas da ciência, do gênio, da eloqüência, de tudo o que pode representar o ideal de santidade de um Pastor unido à doutrina do intérprete das coisas divinas? Atanásio viveu para o Filho de Deus; Sua causa foi a de Atanásio. Quem estava com Atanásio, estava com o Verbo eterno, e quem maldizia o Verbo eterno maldizia Atanásio"2, comenta Dom Guéranger, o admirável autor eclesiástico do século XIX.

 

Arianismo: heresia devastadora

Deus nosso Senhor permitiu que houvesse várias heresias logo no início da Igreja. Com isso, ao refutá-las, os doutores foram explicitando a verdade católica a partir da Revelação e estabelecendo assim os fundamentos básicos sobre os quais se firmasse a verdadeira doutrina.

Uma das heresias que mais dano causou à Igreja, a partir do século III, foi o arianismo, devido ao apoio que encontrou da parte de muitos bispos e imperadores.

Na segunda metade do século III, Melécio, Bispo de Lycopolis, rompeu com São Pedro de Alexandria, provocando um cisma que dividiu o patriarcado de Alexandria. Melécio caiu em cisma (ou seja, provocou uma divisão) por ter discordado da indulgência do Santo ao receber de volta à Igreja cristãos arrependidos que, por fraqueza, haviam oferecido incenso aos ídolos para evitar a morte.

Ario, homem intrigante, habilidoso, persuasivo, vindo da Líbia, juntou-se aos cismáticos. Elevado ao sacerdócio pelo primeiro sucessor de São Pedro de Alexandria, ambicioso e buscando preeminência, Ario começou a pregar uma nova doutrina, que negava a divindade de Nosso Senhor Jesus Cristo. Santo Alexandre, novo Patriarca de Alexandria, condenou-a como herética.

Atanásio: sustentáculo anti-ariano

"Jamais, talvez, nenhum chefe de heresia possuiu em mais alto grau que Ario as qualidades próprias para esse maldito e funesto papel. Instruído nas letras e na filosofia dos gregos, dotado de uma rara fineza de dialética e de linguagem, ele conseguia dar ao erro o aspecto e o atrativo da verdade. Seu exterior ajudava a sedução. Seu orgulho se disfarçava sob uma simples vestimenta, sob um olhar modesto, recolhido, mortificado, que lhe dava um falso ar de santidade, e ao qual ele sabia aliar um trato gracioso e um tom doce e insinuante"3. Isso lhe abriu a porta dos grandes e poderosos do mundo. Eusébio de Cesaréia lhe concedeu asilo e o protegeu. Eusébio de Nicomédia tornou-se seu mais forte defensor. Por isso sua heresia estendeu-se séculos afora, provocando grande mal à Igreja.

O crescimento e o tumulto da nova heresia preocupou o Imperador Constantino, que enviou o mais venerado Prelado da época, Ósio de Córdoba, a Alexandria, para tentar fazer cessar a "epidemia". Este, estando com Santo Atanásio, reconheceu logo sua ortodoxia; bem como a má-fé e erro de Ario. Por isso, aconselhou o Imperador a convocar um concílio em Nicéia, para condenar a nova heresia. Neste foi composto o famoso Credo de Nicéia, que alguns heresiarcas assinaram constrangidos, e outros, recusando-se a fazê-lo, foram exilados.

Foi ali, na grande assembléia, que um pequeno grande homem, secretário de Santo Alexandre, se fez notar pelo fogo de suas palavras, eloqüência e amor à ortodoxia católica. Era ele Atanásio.

Moldador dos acontecimentos

"Atanásio era uma dessas raras personalidades que deriva incomparavelmente mais de seus próprios dons naturais de intelecto do que do fortuito da descendência ou dos que o rodeiam. Sua carreira quase personifica uma crise na história da Cristandade, e pode-se dizer dele que mais deu forma aos acontecimentos em que tomou parte do que foi moldado por eles"4. A esta descrição psicológica devemos acrescentar sua fé profunda e inabalável, a serviço da qual colocou suas qualidades naturais.

De estatura abaixo da média (pelo que foi objeto de debique por parte do apóstata Juliano), segundo seus biógrafos, era de compleição magra, mas forte e enérgico. Tinha uma inteligência aguda, rápida intuição, era bondoso, acolhedor, afável, agradável na conversação, mas alerta e afiado no debate.

A História não guardou o nome de seus pais. Pela alta formação intelectual que ele demonstra ainda jovem, julga-se que pertencia à classe mais elevada.

Jovem Patriarca de Alexandria

Ainda adolescente, foi notado e apreciado por Santo Alexandre, que o tomou sob sua proteção e, com o tempo, o fez seu secretário. No Concílio de Nicéia ainda não havia recebido a ordenação. Mas, cinco meses depois, Santo Alexandre, ao falecer, designou-o como seu sucessor na Sé de Alexandria. Atanásio tinha apenas trinta anos de idade.

Triste herança recebeu o jovem bispo. Durante seus primeiros anos de episcopado, os melecianos e arianos juntaram-se para tumultuar o povo e lançar o espírito de revolta, de que se alimentam as heresias. Pois o arianismo, se bem que tivesse um suposto fundamento religioso, era mais um partido político de agitadores, como muitos movimentos da esquerda católica de hoje em dia. Não havia calúnia, difamação e ardil que os arianos não inventassem contra Atanásio, para minar sua autoridade.

O Imperador Constantino, perdendo sua mãe Santa Helena, ficou sob a influência de sua irmã Constância, conquistada pela heresia. A pedido dela, fez voltar do exílio os hereges exilados em Nicéia, enquanto perseguia os católicos ortodoxos.

A astúcia dos santos

Apenas retornado do exílio, Eusébio de Nicomédia convoca um concílio em Cesaréia, sede do outro Eusébio ariano, para condenar Santo Atanásio. Este é intimado a comparecer em Tiro — para onde o concílio havia sido transferido — a fim de responder às acusações assacadas contra ele.

Fizeram entrar uma mulher de cabelos desgrenhados que, com altos gritos, acusou o Santo de ter dela abusado. Um dos padres de Atanásio, percebendo o jogo, levantou-se e foi até a impostora, exclamando: "Como! Então é a mim que imputas esse crime?!". Ela, que não conhecia Atanásio, replicou: "Sim, é a ti. Eu bem te reconheço". Houve uma gargalhada geral, e a miserável fugiu cheia de confusão.

Mas isso não desarmou os impostores. Mostrando uma mão ressequida, afirmaram pertencer a um tal Arsênio, que havia tempos desaparecera, e certamente fora esquartejado por Atanásio para efeitos de magia. Atanásio faz entrar na sala o próprio Arsênio, que descobrira na solidão do deserto. Mostrando-o, disse aos acusadores: "Vejam Arsênio, com suas duas mãos. Como o Criador só nos deu duas, que meus adversários expliquem de onde tiraram essa terceira". Os hereges, confundidos, provocaram verdadeiro tumulto e suspenderam a sessão.

Exílio causado por amor à ortodoxia

Com calúnias e outros artifícios, os hereges, que gozavam do prestígio do poder imperial, conseguiram que o Santo fosse exilado cinco vezes.

O primeiro exílio, em Treveris, durou cinco anos e meio, terminando em 337 quando, com a morte de Constantino, seu filho do mesmo nome chamou Atanásio para ocupar novamente sua Sé. No ano anterior, Ario, sentindo-se mal quando era levado em triunfo pelos seus partidários, teve que retirar-se a um lugar escuso, onde morreu com as entranhas nas mãos.

Entretanto, morto o heresiarca, não morreu a heresia, que em 340 conseguiu impor um bispo herege em Alexandria, tendo Atanásio que fugir para o exílio em Roma. Foi bem acolhido pelo Papa, que condenou o intruso.

Atanásio passou três anos em Roma, onde introduziu os monges do Oriente. Publicou na Cidade Eterna grandes obras contra os hereges arianos. Em 343 foi exilado para a Gália.

A década de 346 a 356 foi o período de ouro para Atanásio na Sé de Alexandria. Pôde dedicar-se inteiramente ao ministério episcopal, instruindo o clero e o povo, dedicando-se aos necessitados e favorecendo a vida monástica. Sobretudo fortaleceu na fé os católicos fiéis.

Em um novo concílio, em Milão, em 356, os arianos obtiveram que Santo Atanásio fosse mais uma vez exilado. Ele retirou-se então para o deserto do alto Egito, levando uma vida de anacoreta durante os seis anos seguintes, vivendo com os monges e dedicando-se a seus escritos.

Perseguição inclemente ao Santo

Com a subida de Juliano, o Apóstata, ao trono imperial, Atanásio pôde voltar, em 362, a Alexandria. Mas, pouco depois, ciumento do prestígio do Santo, o ímpio imperador mandou exilá-lo de novo. Não foi por muito tempo, pois Juliano faleceu no ano seguinte, depois de ter tentado restaurar no Império o paganismo. O novo imperador, Joviano, anulou o exílio de Atanásio, que voltou mais uma vez a Alexandria.

Favorecido com a boa vontade do novo Imperador, o patriarca pensava desta vez poder dedicar-se inteiramente às suas ovelhas. Joviano, entretanto, faleceu no ano seguinte, e Atanásio foi mais uma vez exilado. Conta-se que teve de refugiar-se durante quatro meses no túmulo de seu pai.

O povo de Alexandria não podia passar sem seu zeloso pastor. Recorreu nessa ocasião a Valente, irmão do Imperador ariano Valentiniano, e obteve que Atanásio pudesse voltar em paz à sua igreja.

Assim, depois de uma vida tão tumultuada e de tantos perigos, Santo Atanásio, como ressalta o Breviário Romano, "morreu em paz em seu leito", no dia 18 de janeiro de 373. Havia governado, com intervalos, durante 46 anos, a igreja (diocese) de Alexandria.

O grande iluminador

"`No caráter de Atanásio — disse Bossuet — tudo é grande'. Toda sua vida é a revelação de uma energia prodigiosa, que só encontramos em épocas decisivas. Indiscutivelmente, sua grandeza como homem o coloca na primeira linha dos caracteres mais admiráveis que produziu o gênero humano. Como escritor e Doutor, pôde ser chamado o grande iluminador, e coluna fundamental da Igreja"5.

Notas:

1.Fr. Justo Perez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, 3ª. edição, vol. II, p.253.

2.D. Próspero Guéranger, El Año Litúrgico, Ediciones Aldecoa, Burgos, 1956, tomo III, p. 758.

3.Les Petits Bollandistes, p. 239.

4.The Catholic Encyclopedia, Online Edition.

5.Fr. Justo Perez de Urbel, op. cit., p. 267.

 

FONTE: Santo Atanásio - Bispo e Doutor da Igreja - 02 de maio

 

OBS: Os Destaques são meus.

domingo, 24 de agosto de 2025

TESTEMUNHO DE FÉ: AS CONFISSÕES DE UM EX-IDEÓLOGO DE GÊNERO

 



Professor universitário renomado volta atrás em relação à ideologia de gênero: “Decepcionante ver que os pontos de vista que eu costumava defender com tanto fervor, e com tão poucos fundamentos, foram hoje aceitos por tantas pessoas na sociedade”.

 

Tradução: Equipe Christo Nihil Praeponere


Um historiador canadense que ajudou a popularizar a ideia de gênero como construção social para preservar estruturas de poder tradicionais veio a público fazer um mea culpa sobre sua obra pregressa. Ele não apenas repudiou as consequências do transgenerismo, como admitiu que havia se baseado parcialmente em informações manipuladas para que se confirmassem os seus preconceitos ideológicos.  

Christopher Dummitt, professor associado da School for the Study of Canada, na Trent University, publicou no dia 17 de setembro de 2019, no portal Quilletteum ensaio no qual ele explica sua antiga convicção de que o “sexo era integralmente uma construção social que só dizia respeito ao poder”, admite que sua “grande ideia” passou por cima do bom senso biológico e da liberdade de expressão, e apresenta um “mea culpa por sua responsabilidade em tudo isso”.   

Em 2007, Dummitt publicou um livro sobre o assunto, o qual foi intitulado The Manly Modern: Masculinity in Postwar Canada [“A Virilidade Moderna: Masculinidade no Canadá do Pós-Guerra”]. Em 1998, já havia publicado um artigo baseado em sua dissertação de mestrado, intitulado Finding a Place for Father: Selling the Barbecue in Postwar Canada [“Encontrando um Lugar para o Pai: Vendendo Churrasco no Canadá do Pós-Guerra”]. Segundo ele, o livro foi citado em trabalhos subsequentes sobre o tema, e o seu artigo “foi republicado diversas vezes em manuais para estudantes universitários”.

Apesar do sucesso profissional, Dummitt admite que hoje “se envergonha de alguns dos conteúdos” porque, embora tenha “acertado parcialmente em alguns pontos”, “todo o restante foi basicamente inventado”.

Em seguida, Dummitt faz um esboço do processo por meio do qual inventou e sustentou suas alegações, começando com uma declaração como esta: “Houve uma grande quantidade de variações históricas e culturais” em relação à definição de sexo. Para sustentar essas alegações, “eu tinha meus exemplos favoritos, e finalmente os encaixava em anedotas concisas que eu podia usar em palestras ou conversas”, tais como a mudança de associação das cores azul e rosa aos dois sexos. 

“Em segundo lugar, eu argumentava que toda vez que dizíamos a alguém que algo era masculino ou feminino, aquilo nunca dizia respeito apenas ao sexo”, prossegue. “Aquilo sempre referiria simultaneamente ao poder. E o poder continua sendo uma espécie de palavra mágica na Academia”.

“Portanto, quando alguém negava que gênero e sexo variavam, quando sugeriam que realmente havia algo atemporal ou biológico em relação ao sexo e ao gênero, de fato estavam justificando o poder. Eram apologistas da opressão”, explica. “Isso soa familiar?”

Depois disso, ele “foi em busca de alguma explicação no contexto histórico que mostrasse, num determinado momento histórico, por que as pessoas se referiam a algo como masculino ou feminino”. Ele mesmo admitiu que podia “manipular” os detalhes porque “a história é um lugar imenso. Então, sempre havia algo para encontrar”. 

Dummitt argumenta que estava em “território seguro”, visto que ele “ficava preso aos documentos e reconstruía o que as pessoas falavam”, mas as conclusões que tirava deles eram “intelectualmente falidas” porque “vinham de minhas crenças ideológicas — ainda que, naquela ocasião, eu não tivesse descrito aquilo como ideologia”.

“Eu deveria ter sido mais esperto. Se fosse me submeter a uma psicanálise retroativa, diria que realmente eu era mais esperto”, confessa Dummitt. “Por isso fiquei tão nervoso e fui tão assertivo sobre o que achava que sabia. O objetivo era esconder o fato de que, num nível muito elementar, eu não tinha prova de parte do que estava dizendo. Então, fiquei preso a argumentos de forma fervorosa e denunciei pontos de vista alternativos. Não foi algo belo do ponto de vista intelectual. Por isso é tão decepcionante ver que os pontos de vista que eu costumava defender com tanto fervor — e com tão poucos fundamentos — foram hoje aceitos por tantas pessoas na sociedade”. 

“Decepcionante ver que os pontos de vista que eu costumava defender com tanto fervor, e com tão poucos fundamentos, foram hoje aceitos por tantas pessoas.”

 

Dummitt também observa que seu envolvimento com a ideologia de gênero se explicava parcialmente pelo fato de nunca ter confrontado pontos de vista acadêmicos divergentes. “A crítica de Steven Pinker ao construcionismo social, The Blank Slate: The Modern Denial of Human Nature [‘A Lousa em Branco: a Negação Moderna da Natureza Humana’], foi publicada em 2002 antes que eu terminasse meu doutorado e depois que publiquei meu livro. Porém, não tinha ouvido falar dele, e ninguém nunca me sugeriu que eu tivesse de lidar com seus argumentos e evidências”, observa. “Isso bastaria para lhe revelar muito da bolha em que todos nós vivíamos”.

Ele argumenta que esses problemas são generalizados no campo da “história de gênero”, e aquilo que é considerado “prova” na verdade não passa de um grupo de acadêmicos que gostam de citar-se mutuamente como afirmação.

“Meu raciocínio falho e outros acadêmicos que usam o mesmo tipo de raciocínio agora são usados por ativistas e governos para transformar em lei um novo código moral de conduta”, lamenta Dummitt. “Era diferente quando eu bebia com colegas de graduação e lutava no irrelevante mundo do nosso próprio ego. Mas hoje muitas outras coisas estão em jogo”. Ele ainda crê que o gênero é “socialmente construído” em alguns casos, mas “os críticos dos construcionistas sociais estão certos em erguer as sobrancelhas diante das assim chamadas provas apresentadas por supostos especialistas”.      

“Até que haja acadêmicos seriamente críticos e ideologicamente divergentes quanto a sexo e gênero”, conclui Dummit, “e até que a revisão ‘por pares’ seja mais do que uma forma de controle intra-grupo, teremos de ser, de fato, bastante céticos sobre muito do que se considera ‘expertise’ quanto à construção social de sexo e gênero”.

OBS: OS GRIFOS SÃO MEUS.  

FONTE: As confissões de um ex-ideólogo de gênero

domingo, 17 de agosto de 2025

COMENTÁRIOS: A IGREJA CATÓLICA E A IDEOLOGIA DE GÊNERO

 




 

Prezados irmãos e Irmãs, Salve Maria.

 

Já se falou e ainda se fala a respeito deste tema relacionado á Ideologia de Gênero.  Neste artigo pretendo dar um exclarecimento a respeito deste assunto de acordo com que ensina a Igreja.

 

A Igreja Católica se opõe à ideologia de gênero por motivos teológicos, antropológicos e morais. Abaixo explico de forma clara e fundamentada por que a Igreja adota essa posição:

1. Conceito de ideologia de gênero:

A ideologia de gênero propõe que o gênero (masculino, feminino, etc.) não está necessariamente ligado ao sexo biológico, mas é uma construção social, cultural e individual. Assim, a pessoa pode escolher seu gênero independentemente do seu corpo ou nascimento.

2. A visão cristã do ser humano:

A Igreja acredita que Deus criou o ser humano como homem e mulher (cf. Gênesis 1,27), e que essa diferença sexual é parte essencial da identidade humana. A sexualidade não é algo apenas biológico, mas integra a totalidade da pessoa, com corpo, alma, afeto e razão.

👉 Para a Igreja, homem e mulher são complementares, chamados à comunhão, ao amor e à geração da vida, especialmente dentro do matrimônio.

3. Doutrina da Igreja:

A Igreja entende a ideologia de gênero como contrária à ordem natural e divina da criação. Ao separar radicalmente o gênero do sexo biológico, essa ideologia comprometeria a visão integral da pessoa humana e colocaria em risco a estrutura da família.

O Papa Francisco se pronunciou várias vezes sobre isso. Em sua exortação Amoris Laetitia (2016) por exemplo,  ele diz:

"A ideologia de gênero nega a diferença e a reciprocidade natural de homem e mulher. Ela apresenta uma sociedade sem diferenças de sexo, e esvazia a base antropológica da família."
(Amoris Laetitia, nº 56)

4. O que a Igreja não faz

É importante destacar que a Igreja não condena pessoas que enfrentam conflitos de identidade ou atração pelo mesmo sexo. Pelo contrário, pede respeito, acolhida e amor, mas sempre chamando à verdade e à integridade da pessoa.

O Catecismo da Igreja Católica diz:

"Devem ser acolhidas com respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á, em relação a elas, qualquer sinal de discriminação injusta."(CIC 2358)

5. O apelo ao diálogo

A Igreja não se opõe ao diálogo sobre identidade, afetividade e dignidade humana, mas rejeita toda imposição ideológica que pretenda substituir a verdade antropológica revelada por Deus. Ela pede que se respeite a liberdade de educar conforme os valores cristãos e que o papel dos pais na formação dos filhos seja preservado.

A Igreja Católica se opõe à ideologia de gênero porque:

·         Fere a compreensão cristã do ser humano como criado homem e mulher.

·         Relativiza a identidade sexual natural.

·         Pode desestruturar a família e a educação.

·         Substitui a verdade por ideologias subjetivas.

·         Não respeita a integridade da criação e da vocação humana.

Mas também:

·         Acolhe toda pessoa com misericórdia.

·         Defende a dignidade de cada ser humano, independentemente de sua condição.

·         Promove o diálogo, sem abrir mão da verdade.

 

Espero que este artigo, possa ajudar a esclarecer melhor a respeito deste tema.


Ad Majorem Dei Gloriam,

EDGAR LEANDRO DA SILVA

domingo, 10 de agosto de 2025

DOCUMENTOS: FIDEI DEPOSITUM

 



CONSTITUIÇÃO APOSTÓLICA
DO SUMO PONTÍFICE JOÃO PAULO II
FIDEI DEPOSITUM
PARA A PUBLICAÇÃO
DO CATECISMO DA IGREJA CATÓLICA
REDIGIDO DEPOIS DO CONCÍLIO VATICANO II

 

Aos veneráveis Irmãos Cardeais.
Arcebispos, Bispos, Presbíteros,
Diáconos e a todos os membros do Povo de Deus

 

I. INTRODUÇÃO

Guardar o Depósito da Fé é missão que o Senhor confiou à sua Igreja e que ela cumpre em todos os tempos. O Concílio Ecumênico Vaticano II, inaugurado há trinta anos pelo meu predecessor João XXIII, de feliz memória, tinha como intenção e como finalidade pôr em evidência a missão apostólica e pastoral da Igreja, e, fazendo resplandecer a verdade do Evangelho, levar todos os homens a procurarem e acolherem o amor de Cristo que excede toda a ciência (cf. Ef 3,19).

Ao Concílio, o Papa João XXIII tinha confiado como tarefa principal guardar e apresentar melhor o precioso depósito da doutrina cristã, para o tornar mais acessível aos fiéis de Cristo e a todos os homens de boa vontade. Portanto, o Concílio não devia, em primeiro lugar, condenar os erros da época, mas sobretudo empenhar-se por mostrar serenamente a força e a beleza da doutrina da fé. "Iluminada pela luz deste Concílio - dizia o Papa - a Igreja... crescerá em riquezas espirituais... e, recebendo a força de novas energias, olhará intrépida para o futuro... É nosso dever... dedicar-nos, com vontade pronta e sem temor, àquele trabalho que o nosso tempo exige, prosseguindo assim o caminho que a Igreja percorre há vinte séculos" [1].

Com a ajuda de Deus, os Padres conciliares puderam elaborar, em quatro anos de trabalho, um conjunto considerável de exposições doutrinais e de diretrizes pastorais oferecidas a toda a Igreja. Pastores e fiéis encontram ali orientações para aquela "renovação de pensamentos, de atividades, de costumes, e de força moral, de alegria e de esperança, que foi o objetivo do Concílio" [2].

Depois da sua conclusão, o Concílio não cessou de inspirar a vida da Igreja. Em 1985 pude afirmar: "Para mim - que tive a graça especial de nele participar e colaborar no seu desenvolvimento - o Vaticano II foi sempre, e é de modo particular nestes anos do meu Pontificado, o constante ponto de referência de toda a minha ação pastoral, no consciente empenho de traduzir as suas diretrizes em aplicação concreta e fiel, a nível de cada Igreja e da Igreja inteira. É preciso incessantemente recomeçar daquela fonte" [3].

Neste espírito, a 25 de janeiro de 1985, convoquei uma Assembléia Extraordinária do Sínodo dos Bispos, por ocasião do vigésimo aniversário do encerramento do Concilio. A finalidade desta Assembléia era celebrar as graças e os frutos espirituais do Concílio Vaticano II, aprofundar o seu ensinamento para aderir melhor a ele e promover o conhecimento e a aplicação do mesmo.

Nessa ocasião, os Padres sinodais afirmaram: "Muitíssimos expressaram o desejo de que seja composto um Catecismo ou compêndio de toda a doutrina católica, tanto em matéria de fé como de moral, para que ele seja como um ponto de referência para os catecismos ou compêndios que venham a ser preparados nas diversas regiões. A apresentação da doutrina deve ser bíblica e litúrgica, oferecendo ao mesmo tempo uma doutrina sã e adaptada à vida atual dos cristãos" [4]. Depois do encerramento do Sínodo, fiz meu este desejo, considerando que ele "corresponde à verdadeira necessidade da Igreja universal e das Igrejas particulares" [5].

Como não havemos de agradecer de todo o coração ao Senhor, neste dia em que podemos oferecer a toda a Igreja, com o título de "Catecismo da Igreja Católica", este "texto de referência" para uma catequese renovada nas fontes vivas da fé!

Depois da renovação da Liturgia e da nova codificação do Direito Canônico da Igreja Latina e dos cânones das Igrejas Orientais Católicas, este Catecismo trará um contributo muito importante àquela obra de renovação da vida eclesial inteira, querida e iniciada pelo Concílio Vaticano II.

II. ITINERÁRIO E ESPÍRITO DA REDAÇÃO DO TEXTO

O "Catecismo da Igreja Católica" é fruto de uma vastíssima colaboração: foi elaborado em seis anos de intenso trabalho, conduzido num espírito de atenta abertura e com apaixonado ardor.

Em 1986, confiei a uma Comissão de doze Cardeais e Bispos, presidida pelo senhor Cardeal Joseph Ratzinger, o encargo de preparar um projeto para o Catecismo requerido pelos Padres do Sínodo. Uma Comissão de redação, composta por sete Bispos diocesanos, peritos em teologia e em catequese, coadjuvou a Comissão no seu trabalho.

A Comissão, encarregada de dar as diretrizes e de vigiar sobre o desenvolvimento dos trabalhos, seguiu atentamente todas as etapas da redação das nove sucessivas composições. A Comissão de redação, por seu lado, assumiu a responsabilidade de escrever o texto e lhe inserir as modificações pedidas pela Comissão e de examinar as observações de numerosos teólogos, exegetas e catequistas, e sobretudo dos Bispos do mundo inteiro, a fim de melhorar o texto. A Comissão foi sede de intercâmbios frutuosos e enriquecedores, para assegurar a unidade e a homogeneidade do texto.

O projeto tornou-se objeto de vasta consultação de todos os Bispos católicos, das suas Conferências Episcopais ou dos seus Sínodos, dos Institutos de teologia e de catequética. No seu conjunto, ele teve um acolhimento amplamente favorável da parte do Episcopado. É justo afirmar que este Catecismo é o fruto de uma colaboração de todo o Episcopado da Igreja Católica, o qual acolheu com generosidade o meu convite a assumir a própria parte de responsabilidade numa iniciativa que diz respeito, intimamente, à vida eclesial. Tal resposta suscita em mim um profundo sentimento de alegria, porque o concurso de tantas vozes exprime verdadeiramente aquela a que se pode chamar a "sinfonia" da fé. A realização deste Catecismo reflete, deste modo, a natureza colegial do Episcopado: testemunha a catolicidade da Igreja.

III. DISTRIBUIÇÃO DA MATÉRIA

Um catecismo deve apresentar, com fidelidade e de modo orgânico, o ensinamento da Sagrada Escritura, da Tradição viva na Igreja e do Magistério autêntico, bem como a herança espiritual dos Padres, dos Santos e das Santas da Igreja, para permitir conhecer melhor o mistério cristão e reavivar a fé do povo de Deus. Deve ter em conta as explicitações da doutrina que, no decurso dos tempos, o Espírito Santo sugeriu à Igreja.

É também necessário que ajude a iluminar, com a luz da fé, as novas situações e os problemas que ainda não tinham surgido no passado.

O Catecismo incluirá, portanto, coisas novas e velhas (cf. Mt 13,52), porque a fé é sempre a mesma e simultaneamente é fonte de luzes sempre novas.

Para responder a esta dupla exigência, o "Catecismo da Igreja Católica" por um lado retoma a "antiga" ordem, a tradicional, já seguida pelo Catecismo de São Pio V, articulando o conteúdo em quatro partes: o Credo; a sagrada Liturgia, com os sacramentos em primeiro plano; o agir cristão, exposto a partir dos mandamentos; e por fim a oração cristã. Mas, ao mesmo tempo, o conteúdo é com freqüência expresso de um modo "novo", para responder às interrogações da nossa época.

As quatro partes estão ligadas entre si: o mistério cristão é o objeto da fé (primeira parte); é celebrado e comunicado nos atos litúrgicos (segunda parte); está presente para iluminar e amparar os filhos de Deus no seu agir (terceira parte); funda a nossa oração, cuja expressão privilegiada é o "Pai-Nosso", e constitui o objeto da nossa súplica, do nosso louvor e da nossa intercessão (quarta parte).

A Liturgia é ela própria oração; a confissão da fé encontra o seu justo lugar na celebração do culto. A graça, fruto dos sacramentos, é a condição insubstituível do agir cristão, tal como a participação na liturgia da Igreja requer a fé. Se a fé não se desenvolve nas obras, essa está morta (cf. Tg 2,14-16) e não pode dar frutos de vida eterna.

Lendo o "Catecismo da Igreja Católica", pode-se captar a maravilhosa unidade do mistério de Deus, do seu desígnio de salvação, bem como a centralidade de Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, enviado pelo Pai, feito homem no seio da Santíssima Virgem Maria por obra do Espírito Santo, para ser o nosso Salvador. Morto e ressuscitado, ele está sempre presente na sua Igreja, particularmente nos sacramentos; ele é a fonte da fé, o modelo do agir cristão e o Mestre da nossa oração.

IV. VALOR DOUTRINAL DO TEXTO

O "Catecismo da Igreja Católica", que aprovei no passado dia 25 de junho e cuja publicação hoje ordeno em virtude da autoridade apostólica, é uma exposição da fé da Igreja e da doutrina católica, testemunhadas ou iluminadas pela Sagrada Escritura, pela Tradição apostólica e pelo Magistério da Igreja. Vejo-o como um instrumento válido e legítimo a serviço da comunhão eclesial e como uma norma segura para o ensino da fé. Sirva ele para a renovação, à qual o Espírito Santo chama incessantemente a Igreja de Deus, Corpo de Cristo, peregrina rumo à luz sem sombras do Reino!

A aprovação e a publicação do "Catecismo da Igreja Católica" constituem um serviço que o Sucessor de Pedro quer prestar à Santa Igreja Católica, a todas as Igrejas particulares em paz e em comunhão com a Sé Apostólica de Roma: o serviço de sustentar e confirmar a fé de todos os discípulos do Senhor Jesus (cf. Lc 22,32), como também de reforçar os laços da unidade na mesma fé apostólica.

Peço, portanto, aos Pastores da Igreja e aos fiéis que acolham este Catecismo em espírito de comunhão, e que o usem assiduamente ao cumprirem a sua missão de anunciar a fé e de apelar para a vida evangélica. Este Catecismo lhes é dado a fim de que sirva como texto de referência, seguro e autêntico, para o ensino da doutrina católica, e de modo muito particular para a elaboração dos catecismos locais. É também oferecido a todos os fiéis que desejam aprofundar o conhecimento das riquezas inexauríveis da salvação (cf. Jo 8,32). Pretende dar um apoio aos esforços ecumênicos animados pelo santo desejo da unidade de todos os cristãos, mostrando com exatidão o conteúdo e a harmoniosa coerência da fé católica. O "Catecismo da Igreja Católica", por fim, é oferecido a todo o homem que nos pergunte a razão da nossa esperança (cf. l Pd 3,15) e queira conhecer aquilo em que a Igreja Católica crê.

Este Catecismo não se destina a substituir os Catecismos locais devidamente aprovados pelas autoridades eclesiásticas, os Bispos diocesanos e as Conferências Episcopais, sobretudo se receberam a aprovação da Sé Apostólica. Destina-se a encorajar e ajudar a redação de novos catecismos locais, que tenham em conta as diversas situações e culturas, mas que conservam cuidadosamente a unidade da fé e a fidelidade à doutrina católica.

V. CONCLUSÃO

No final deste documento que apresenta o "Catecismo da Igreja Católica", peço a Santíssima Virgem Maria, Mãe do Verbo Encarnado e Mãe da Igreja, que ampare com a sua poderosa intercessão o empenho catequético da Igreja inteira a todos os níveis, nestes tempos em que ela é chamada a um novo esforço de evangelização. Possa a luz da verdadeira fé libertar a humanidade da ignorância e da escravidão do pecado, para a conduzir à única liberdade digna deste nome (cf. Jo 8,32): a da vida em Jesus Cristo sob a guia do Espírito Santo, na terra e no Reino dos Céus na plenitude da bem-aventurança da visão de Deus face à face (cf. 1Cor 13,12; 2Cor 5,6-8)!

Dado no dia 11 de outubro de 1992, trigésimo aniversário da abertura do Concílio Ecumênico Vaticano II, décimo quarto ano do meu pontificado.

JOÃO PAULO II

 

P.S: OS GRIFOS SÃO MEUS


FONTE: Fidei Depositum (11 de outubro de 1992)

domingo, 3 de agosto de 2025

VIDA DE SANTOS: SÃO LUIS MARIA GRIGNION DE MONTFORT

 


São Luís Maria Grignion
Doutor da Devoção Maria


Um dos missionários da devoção marial mais conhecidos, incansável pregador da sagrada escravidão de amor a Maria Santíssima, apóstolo da Contra-Revolução

Por Plinio Maria Solimeo


Segundo dos 18 filhos do advogado João Batista e de Joana Roberto de la Vizeule, Luís Grignion nasceu em 3 de janeiro de 1673, em Montfort-la-Cane (hoje Montfort-sur-Meu), na Bretanha. Por devoção a Nossa Senhora, no crisma acrescentou ao seu nome o de Maria.


Luís herdou do pai um temperamento colérico e arrebatado, e dirá depois que "custava-lhe mais vencer sua veemência e a paixão da cólera que todas as demais juntas". Mas conseguiu-o tão bem, que um sacerdote seu companheiro, nos últimos anos de sua vida, atesta que: "Realizou esforços incríveis para vencer sua natural veemência; e o conseguiu, e adquiriu a encantadora virtude da doçura"(1), que atraía tanto as multidões.


O pequeno Luís Grignion de Montfort sentia também muito pendor pela solidão, sendo comum retirar-se a um canto da casa para entregar-se à oração diante de uma imagem da Virgem, rezando principalmente o Rosário.


Em 1684 os pais o enviaram a estudar humanidades como externo no Colégio Tomás Becket, dos jesuítas de Rennes. Ali passará ele oito anos, com muito bom aproveitamento.

Todos os dias, antes de ir para o colégio, ele passava em alguma igreja para fazer uma visita ao Santíssimo Sacramento e a alguma imagem de Nossa Senhora. Muitas vezes, antes de voltar para casa, fazia o mesmo.

Amor pelos pobres e vocação sacerdotal


Cresceu nele um desejo inato de ajudar o próximo. Como diz um seu biógrafo, "seu bom coração, cheio de misericórdia e de compaixão para com o próximo, o levava a ocupar-se em amparar os escolares pobres que estudavam com ele no colégio. Não os podendo socorrer com seus próprios recursos, ia solicitar para eles esmolas junto às pessoas caridosas".(2)

Foi isso que o levou a freqüentar um grupo de jovens reunidos por um sacerdote, o Pe. Bellier, aos quais este fazia palestras sobre temas piedosos, e os enviava depois aos hospitais para consolar e instruir os pobres. Era junto destes que o adolescente Luís passava parte de seus dias de folga.

Concluídos os estudos, decidiu tornar-se sacerdote, dirigindo-se então a Paris. Fez a longa viagem a pé, pedindo de esmola alojamento e comida.

Uma benfeitora obteve para ele que entrasse no célebre seminário de Saint Sulpice. Depois de muitas vicissitudes, foi ordenado sacerdote em 1700.

Intensa luta contra os jansenistas


Durante cinco anos não contínuos, o Pe. de Montfort - como era conhecido - trabalhou na diocese de Poitiers, seja como capelão do Hospital Geral, seja pregando missões nos arrabaldes da cidade, combatendo as blasfêmias, canções obscenas e embriaguezes. No Hospital Geral veio-lhe a idéia de formar uma associação de donzelas, que "dedicou à Sabedoria do Verbo Encarnado, para confundir a falsa sabedoria das pessoas do mundo e estabelecer entre elas a loucura do Evangelho".(3) Selecionou para isso 12 das jovens pobres mais fervorosas, elegendo como sua superiora uma cega. Mais tarde associou a esse grupo duas jovens da boa burguesia, a futura beata Maria Luísa Trichet e Catarina Brunet. "A sabedoria que preconiza Montfort se inspira, de um lado, na segunda carta de São Paulo aos Coríntios: a cruz, escândalo e loucura para tantos sábios, mas sabedoria de Deus, misteriosa e escondida".(4)


Entretanto os infeccionados pela heresia jansenista - essa espécie de protestantismo disfarçado -, junto com os livres pensadores, começaram uma campanha de calúnia contra esse missionário "extravagante", que pregava uma "devoção exagerada" à Mãe de Deus. Ele precisou dissolver sua associação da Sabedoria e retirar-se do Hospital, apesar dos protestos veementes dos pobres e dos enfermos.


O Pe. de Montfort aproveitou essa ocasião para fazer uma peregrinação a Roma. Na Cidade Eterna, pô-se à disposição do Sumo Pontífice para trabalhar pela salvação das almas em qualquer parte onde este o quisesse enviar. Clemente XI julgou que o missionário seria mais útil em sua própria pátria, ensinando a doutrina cristã às crianças e ao povo e fazendo reflorescer o espírito do cristianismo pela renovação das promessas do batismo. O Papa nomeou-o Missionário Apostólico. Mas estava ele sob a dependência dos bispos, muitos dos quais de tendência jansenista.

Missionário Apostólico em Nantes


Voltando à França, passou a trabalhar com o Pe. Leuduger, que tinha um grupo de missionários dedicados totalmente à evangelização do campo. Foi uma nova experiência para o Pe. Montfort, pois constatou a importância do canto e das grandes procissões nos esforços missionários. Ele escreverá várias dezenas de cantos populares, cujas letras se adaptavam a melodias profanas, muito em voga então.


Seis meses depois, vemo-lo em sua cidade natal, evangelizando a região, tendo associado a si dois leigos, um dos quais será o Irmão Maturin Rangeard, que continuará por 55 anos evangelizando como missionário leigo.


Mas esta atividade foi também proibida a Luís Grignion pelo bispo de Saint Malo, por influência dos jansenistas.


Em Nantes ele obteve o cargo de diretor das missões de toda a diocese, tendo ali trabalhado durante dois anos. Dessa época temos o seguinte depoimento de um seu contemporâneo: "O que mais se destacava nele era um dom e uma graça singular para ganhar os corações. Tendo-o ouvido, punha-se nele toda confiança. [...] A confiança pronta e fácil que as pessoas tinham nele era tão grande, que conseguiu estabelecer em várias paróquias as orações da noite, o rosário e a sepultura nos cemitérios [contra o costume de se enterrar nas igrejas]; o que não se tinha podido conseguir, [...] ele o conseguiu na primeira proposta que fez".(5)

A construção do Calvário de Pontchâteau


Numa missão em Pontchâteau, o Pe. de Montfort entusiasmou-se com a idéia de erigir um grande calvário em uma colina próxima, e seu entusiasmo contagiou o povo. Durante 15 meses, de 400 a 500 pessoas de todas as idades e condições sociais trabalharam diariamente para aplainar o terreno e montar o calvário. O Pe. de Montfort estava exultante. Tinha já conseguido do bispo de Nantes a autorização para benzê-lo, e estava tudo preparado para o dia 14 de setembro, festa da Exaltação da Santa Cruz. Mas, à véspera desse dia, chegou uma proibição formal do bispo de se proceder à cerimônia. O assunto levantou polêmica e chegou até Versalhes, onde, mal informado, o rei Luís XIV ordenou que demolissem aquilo que lhe apresentavam como uma fortaleza facilmente conquistável pelo inimigo vindo do mar...


Em seguida veio a proibição de pregar naquela diocese.


Por sua devoção ao Rosário, o Pe. de Montfort entrou para a Ordem Terceira de São Domingos, querendo pertencer a uma Ordem que honrava de maneira tão especial a Santíssima Virgem.

Recusado e até expulso de várias dioceses - uma vez lhe foi interditado até celebrar, tendo ele que partir imediatamente para chegar em tempo à diocese vizinha, a fim de rezar a Missa na festa da Assunção -, soube o missionário que seria bem recebido nas dioceses de Luçon e de La Rochelle, cujos bispos eram meritoriamente antijansenistas.


Essas duas dioceses compreendiam uma parte da região da Vandéia, que mais tarde, em 1793, levantar-se-ia contra a sangrenta e atéia Revolução Francesa. Foi na Vandéia que o Pe. de Montfort trabalhou durante os últimos cinco anos de sua vida, implantando naquelas populações uma sólida formação católica. Esta foi, décadas mais tarde, um decisivo fator para a gloriosa e épica Guerra da Vandéia, contra os ímpios revolucionários de 1789.

Carta Circular aos Amigos da Cruz

Nessa região, após as missões, fundava ele associações sob o nome de Irmãos e Irmãs da Cruz, para quem escreveu sua belíssima Carta Circular aos Amigos da Cruz.

Na cidade de La Rochelle, onde ainda pairavam os erros dos calvinistas, ele pregou sucessivamente para pobres, soldados, mulheres e homens. Operou várias conversões, principalmente pelo ministério da confissão, inclusive a de uma dama de qualidade que fez sua retratação pública, para edificação dos católicos e horror dos protestantes.

Em 1714 ergueu os alicerces da futura congregação de missionários, a Companhia de Maria.

O Pe. Grignion de Montfort pregava uma missão em Saint Laurent-sur-Sèvre, quando foi acometido por uma pleurisia que o levou ao túmulo, no dia 28 de abril de 1716.

São Luís Grignion e a Contra-Revolução


São Luís Maria Grignion de Montfort pode ser considerado um apóstolo da Contra-Revolução. Seus livros e escritos inspiraram grandes vultos católicos no século XX, sobressaindo entre eles o Prof. Plinio Corrêa de Oliveira, grande devoto do admirável doutor mariano e especial difusor de sua doutrina.


O livro Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem orientou e conduziu no caminho da perfeição muitas almas em todo o mundo. "A originalidade maior de Montfort consiste, provavelmente, em ter descoberto Maria como garantia de fidelidade, no sentido de levar o cristão a libertar-se do apego imperceptível que se esconde em suas melhores ações. Desapego que consiste, provavelmente, na essência mesma da consagração em forma de escravidão".(6)

__________

Fontes de referência:

(1) Pe. Louis Perouas, San Luis María Grignion de Montfort, Obras, Biblioteca de Autores Cristianos, Madrid, 1984, Introdução, pp. 5 e 22.

(2) Les Petits Bollandistes, Vies des Saints, d'après le Père Giry, Paris, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, 1882, tomo XV, p. 320.

(3) Pe. Louis Perouas, op. cit., p. 11.

(4) Id. ib. p. 12.

(5) Pe. Coupperie des Jonchères, in Louis Perouas, op. cit., p. 16.

(6) Louis Perouas, op. cit., p. 35. Obras também consultadas: Francesco Pappalardo, San Luigi Maria Grignion da Montfort (1673-1716), http://www.alleanzacattolica.org.; Austin Poulain, St. Louis-Marie Grignion de Montfort, The Catholic Encyclopedia, Volume IX, 1910, by Robert Appleton Company, Online Edition, Copyright © 2003 by Kevin Knight.


FONTE: REVISTA CATOLICISMO