domingo, 13 de dezembro de 2015

VIDA DE SANTOS: SÃO VICENTE DE PAULO


São Vicente de Paulo, coluna da Igreja e do Estado



Amparou pobres e nobres empobrecidos, foi conselheiro de soberanos, defendeu a Igreja contra as heresias da época.

Roberto Alves Leite

 


- O necessário para alimentar a comunidade durante um dia.- Quanto tens em caixa?

 

- Isto quer dizer quanto?

- Cinqüenta escudos.

- Ah, bem! Dê-me, pois estou precisando.

E lá se foram os cinqüenta últimos escudos, para os nobres da Lorena.

elitista francês que desta maneira raspou a caixa da Instituição para dar o dinheiro aos nobres empobrecidos da Lorena, nasceu em Dax, próximo da Espanha, em 24 de abril de 1581. Sabe-se que São Vicente de Paulo era de família humilde, e que trilhou descalço os caminhos, cuidando dos seus animais. Sua infância é praticamente desconhecida.

Ordenado sacerdote com 19 anos, desempenhou um papel importantíssimo na história da Igreja na França. Em 1610, a Rainha Margarida de Valois, cuja piedade se igualava ao mundanismo, aceitou-o entre seus conselheiros e capelães esmoleres. Nessa época fez o propósito de dedicar o resto da vida aos necessitados, entretendo seu amor ao próximo no Coração de Jesus Cristo e em uma profunda devoção a Nossa Senhora, que honrava de mil maneiras por numerosas preces e peregrinações.

Em 1615 foi atingido por uma doença que afetou seus joelhos até o final da vida.

Filipe Emanuel de Gondi, Tenente-General do Rei nos mares do Levante, o teve comp preceptor do primogênito. A esposa, Françoise-Margherite de Silly, era mulher virtuosa, cujos escrúpulos faziam sofrer o confessor tanto ou mais do que a ela própria. Quando o zeloso sacerdote se deslocava pelas numerosas terras do General Filipe de Gondi, dava assistência às suas populações e às da vizinhança, trocando a magnificência dos salões pela rudeza dos campos. Nelas instituía, invariavelmente, a Confraria da Caridade.

Enquanto esteve nessa família, tomou o hábito de ver no General a Nosso Senhor, e em sua esposa Nossa Senhora. O que não o impedia de dar-lhes caritativos conselhos.

Sustentáculo da Igreja

Em 1933, funda as Filhas da Caridade, constituída de mulheres unidas por votos, mas sem serem religiosas. Mademoiselle le Grass, nascida Luísa de Marillac, foi a primeira. Era o começo de uma obra que proporcionou socorro a milhões de necessitados pelo mundo inteiro.Serviu o Santo durante um ano na paróquia de Châtillon. Ao sair, um ano mais arde, deixou-a enlutada, o que, aliás, ocorreu em todas as paróquias em que esteve. Todos queriam uma lembrança sua, tendo seu chapéu sido arduamente disputado; deixou para os paroquianos suas roupas. Só os heréticos ficaram contentes, dizendo que os habitantes de Chântileon haviam perdido o sustentáculo e a melhor pedra da Religião católica.

No ano seguinte, nascia a instituição Damas da Caridade, em Paris. Em poucos meses tinha mais de cem membros, quase todos portando grandes nomes, como a Princesa Luísa-Maria de Gonzaga (depois Rainha da Polônia), a Princesa de Condé, as duquesas de Nemours, d'Aiguillon, de Ventadour, de Verneuil, etc.

São Vicente vivia entre nobres, entre pobres e entre santos. Conheceu Santa Luísa de Marillac como esposa do secretário das Ordens da Rainha regente, Maria de Médicis. São Francisco de Sales, segundo ele, era o homem que melhor espelhava o Filho de Deus vivendo sobre a Terra.

Reformador do clero

Poderia parecer que a preocupação com os pobres absorvia todo o seu tempo, mas São Vicente trabalhava também para reformar a Igreja na França. "A Igreja -- dizia ele -- vai à ruína em muitos lugares por causa da má vida dos padres; são eles que a perdem e a destroem". Os resultados dos retiros espirituais para os novos sacerdotes foram fundamentais para reconduzir a classe sacerdotal ao lugar que merece na sociedade.

Os mosteiros também receberam seu valioso auxílio, pois era amigo, ajudante e conselheiro de reformadores de ordens monásticas. Não havia, praticamente, reunião sobre assuntos de piedade a que não estivesse presente. Mesmo altos personagens -- Núncios, Bispos, Magistrados -- vinham lhe submeter suas dúvidas.

Nomeado membro do Conselho de Consciência de Luís XIII, contribuiu decisivamente para a reforma do Episcopado, sendo sempre consultado pelo Rei nas indicações. Após a escolha, conversava com o eleito sobre seus deveres e não o perdia de vista: continuava seu guia e advogado.

Não foi somente reformador, mas um inovador e um criador, instituindo ousadamente as Irmãs de Caridade, sem véu, para atuar entre os doentes e mesmo entre os soldados; e também os missionários, que não são religiosos mas têm votos.

Protetor dos nobres empobrecidos

A maior parte dos nobres da Lorena havia emigrado, para não morrer de fome; sua miséria era a pior, porque não ousavam estender a mão. Ninguém os socorria, porque não eram vistos como necessitados. São Vicente tomou conhecimento dessa situação, e os socorreu. Comentou que sentia muito contentamento nisso, porque era de justiça assistir e aliviar aquela pobre nobreza, para honrar Nosso Senhor, que era muito nobre e muito pobre ao mesmo tempo. Chegou a dar-lhes o dinheiro que havia recebido para a compra de um novo cavalo, porque o seu morria de velho. Seguindo esse belo exemplo, essa nobreza fez o mesmo, durante mais de 20 anos, com os nobres que fugiram da Inglaterra e da Escócia, perseguidos por Cromwell.

Escravo da verdade

Com a morte de Luís XIII, em 1643, voltou ao Conselho de Consciência a pedido da Rainha regente, Ana d'Áustria. Pode-se dizer que a Igreja da França saiu regenerada e rejuvenescida, pois ele não negligenciou nada para salvaguardar ou restaurar o dogma, a moral e a disciplina. É lícito afirmar que nada de importante foi feito contra o jansenismo e outras heresias na França sem sua intervenção. Os ataques violentos, sobretudo depois de sua morte, e os obstáculos que colocaram no processo de sua canonização, demonstram como foram profundas as feridas que receberam os hereges.

Dispensado do Conselho, pois Mazarino não simpatizava com São Vicente, dedicou-se ele especialmente a defender sua obra contra as influências jansenistas, e o fez com extremo sucesso. Os poucos que perdeu eram doentes.

Para ele, bastava que a Igreja tivesse falado. Apoiado sobre essa autoridade, dizia: "Eu tenho a verdade. Para que procurar?". A fé penetrava-o por inteiro. Tudo nele indicava um amor intenso a Deus: o calor com que falava da majestade e da santidade dEle, seu fervor durante os exercícios de piedade e até, suas genuflexões, bem como sua atitude diante do Santíssimo Sacramento.

Perfeito homem de ação

Ninguém serviu o Rei com mais fidelidade, e a Hierarquia eclesiástica com mais respeito, do que o simples Pe. Vicente. Possuia todas as qualidades que caracterizam um homem de ação: iniciativa, ousadia, gênio organizativo, prudência, bom senso, desinteresse, paciência e obstinação. Seu espírito prático e minucioso pesava bem os prós e os contras, tanto em seu conjunto como nos detalhes. Quando entrava por uma via, não parava, não olhava para trás; não destruía num dia o que havia construído na véspera; nada o fazia recuar.

Incansável, vemo-lo limpar o Mediterrâneo dos piratas que o infestavam e multiplicar as negociações para realizar uma expedição afim de bombardear Alger.

Temperamento ordenado pela virtude

Sua mortificação igualava a piedade. Mostrava-se agradecido por qualquer mínimo favor: uma vela que se acendia, um livro que se lhe dava, uma porta que se lhe abria recebia de sua parte um agradecimento. E com tanta graça o fazia, que as pessoas procuravam o menor pretexto para servi-lo. Seu temperamento naturalmente bilioso e melancólico havia cedido lugar à bondade, que lembrava o doce São Francisco de Salles.

Faleceu no dia 27 de setembro de 1660. Em 1737, 27 cardeais, centenas de Prelados, o Rei da Inglaterra, embaixadores e a nobreza romana assistiram à solene canonização de São Vicente de Paulo, no pontificado de Clemente XII.(os destaques são nossos)

 

Fonte de referência:

 

Pierre Coste, Padre da Missão -- Monsieur Vincent, le grand saint du grand siècle -- Desclée de Brouwer et Cie., Paris, 1932.

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