Santo
Afonso de Ligório, Doutor da Igreja, Fundador, Bispo zeloso, grande moralista
Carreira brilhante, o melhor partido do reino de Nápoles, Santo Afonso abandona tudo para se dedicar à salvação das almas, tornando-se um luzeiro da Igreja
Os de Liguori existiam em Nápoles antes
mesmo de ali haver reis. José de Liguori aliava a piedade à bravura, e Ana
Cavaliere era, por assim dizer, a própria paciência e douçura. Da união do
casal, no dia 27 de setembro de 1696, nascia Afonso-Maria Cosme Damião Miguel
de Liguori. Com nove anos foi admitido na Congregação de Jovens Nobres do
Oratório; aos 12, era um santo em miniatura, tal como foi formado por sua mãe:
piedoso, recolhido, amigo das orações e inimigo obstinado do erro. Aos 13,
tocava cravo com perfeição; aos 14, empreendeu viagem rumo ao doutorado,
através da floresta inextricável das leis napolitanas, compostas de códigos
herdados de dez povos diferentes. Prestou exame aos 16 anos (a idade mínima era
20), e foi aprovado por unanimidade. Aos 18, passa para a Congregação dos
Doutores, e na década que se seguiu não perdeu nenhuma causa.
Não
havia partido nem carreira mais brilhantes. O pai colocou duas princesas em seu
caminho: uma, Deus encaminhou ao Carmelo, e a outra se afastou por não ser
correspondida.
Resistências
enormes, uso de influências, nada quebra o apelo que a voz interior lhe fez:
"Deixe o mundo e entregue-se todo a Mim". Aos 27 anos, o primogênito
dos Liguori troca o hábito secular pela libré de Nosso Senhor.
Uma
elite de santos decididos
Como
diácono-catequista e pregador, arrastava as pessoas e inflamava nas almas o
amor de Deus e o ódio ao pecado. Como sacerdote, tinha o dom de fazer as almas
compreenderem a excelência da virgindade e do estado religioso. Após uma
pregação, 15 jovens se decidiram pelo claustro. Sua palavra tinha tal poder que
abatia os pecadores mais obstinados.
A
primeira tentativa para fundar a Congregação do Santíssimo Redentor claudica.
Recomeça, com a convicção de que Deus o queria como fundador. Novas esperanças,
novos tropeços. Afonso entendeu que não deveria ter uma congregação com muitos
membros, mas com "uma elite de santos decididos, como os apóstolos, a
dar suas vidas para pregar o reino de Deus e salvar as almas".
De fato, em 1764, ainda durante a vida do fundador, a congregação já contava
com sete membros mortos em odor de santidade!
Confessaria,
mais tarde, que freqüentemente conversava com a Mãe de Deus, e que Ela lhe dava
muitos conselhos concernentes a assuntos da congregação e lhe dizia muitas e
belas coisas.
O
reino de Nápoles inteiro viu as maravilhas dos novos missionários e também os
desastres. Uma revolução de calúnias obriga-os a fugir, em 1737. Fato curioso,
todos os cabeças dessa perseguição tiveram mortes que chamaram a atenção:
pavorosos gritos, atrozes convulsões, e membro que seca ou que é devorado pelos
vermes.
Sua
paixão: salvar almas
Aos
54 anos, o povo de Nápoles tinha sob seus olhos um verdadeiro santo, poderoso
em obras e em palavras, humilde e doce como o Mestre. Apesar de suas ocupações
e preocupações, passava um tempo considerável aos pés do Santíssimo Sacramento,
onde preparava os discursos e hauria forças para subir ao púlpito, mesmo quando
seu corpo quebrado pela fadiga ou pelo sofrimento parecia se recusar.
Apóstolo
de um reino e fundador, tinha uma paixão, que era de salvar as almas, e que não
lhe permitia tomar um instante de repouso. Sob a ação do fogo que o devorava,
aumentava sempre seu campo de trabalho e de combate. O amor de Deus, aliado ao
voto heróico de nunca perder uma parcela de tempo, a não ser para o apostolado,
centuplicava suas forças.
"Glórias de Maria", escrito
em homenagem a Nossa Senhora, inaugurava sua luta antijansenista e
antivoltairiana (Voltaire, o ímpio escritor francês - 1694-1778).
Fundador,
Bispo, orador, moralista, apologista, místico era também poeta e artista, pois
ainda hoje, através dos vales e montanhas italianos, seus cânticos populares ecoam
e conservam o frescor da juventude.
Quando
Afonso leu a carta do Papa nomeando-o Bispo, ficou mudo, aterrado como um homem
atingido por um raio. Grossas lágrimas saíam de seus olhos. Sem perder tempo,
arrolou todos os argumentos que imaginava serem suficientes para o Papa aceitar
a renúncia: 66 anos, doente, surdo, coxo, quase cego, asmático. Além do mais o
escândalo que daria aos seus irmãos, vendo-o levar a cruz e o báculo! De nada
valeu. O Papa tinha suas razões.
Como
Bispo de Santa Ágata, perseguiu implacavelmente o erro onde ele se encontrava,
até nos últimos refúgios. Era doce e paciente quando se tratava de injúrias
pessoais, mas sentia em si vivamente a afronta a Deus e o dano causado às
almas, e agia em conseqüência. Em dois anos a diocese sofreu uma transformação
completa. A piedade reentrava nos santuários, a palavra apostólica nas cátedras
e a ciência nos confessionários.
Até
os vulcões lhe obedecem
Em
1768 é atacado por uma febre misteriosa, e dores fortíssimas se propagam pelas
articulações, obrigando-o a curvar a cabeça até encostar o queixo no peito.
Como Deus lhe conservava a inteligência e a mão, escreve: "A verdade da
fé", "História das heresias e sua refutação", "Triunfo da
Igreja", "Considerações sobre a Paixão", "Vitória dos
Mártires", etc.
Nesse
corpo desfeito ardia sempre o coração do apóstolo. O fogo do zelo se tornava
dia a dia mais ardente. Um pedido seu fez chover; um sinal da Cruz repôs as
lavas do Vesúvio dentro da cratera.
Os
últimos anos seriam de grandes dores e horripilantes tempestades. Se alguma vez
Deus o conduzia ao Thabor, seria apenas para ajudá-lo a subir o Calvário. Em
1770, o Papa, baseado em falsos relatórios e fatos adulterados, assinou um
decreto que significava sua exclusão da Congregação. Recebeu a notícia sereno,
mas depois sofreu uma terrível tentação de desespero, pensando que foi por
culpa de seus pecados.
Isolado
do mundo pelo enfraquecimento do corpo e dos sentidos, extenuado pelos longos
sofrimentos e macerações, coberto de enfermidades, surdo, quase cego, incapaz
de se mover sem ajuda, não sobrava a este ancião, pregado a uma cadeira de
rodas, senão a chama sempre ardente do divino amor.
Todos
queriam uma relíquia
Na
noite da alma não faltaram as tentações assustadoras contra a fé, a pureza, a
humildade e a esperança. Dizia que se sentia como um homem moído sob os golpes
da justiça de Deus.
Seus
últimos dias foram cheios de êxtases, de dons sobrenaturais, de visão das
coisas ocultas, de discernimento dos espíritos, de profecias e milagres. Quando
se soube de sua doença mortal, as orações foram incessantes, e também a procura
de qualquer coisa que lhe pertencia, para ser tida como relíquia.
No dia 1º de agosto de 1787, no
momento em que os sinos tocavam o Angelus, entregava sua alma a Deus. Seu corpo, apesar do
calor e da gangrena ocorrida na ferida que o queixo criara sobre o peito, e que
precipitou sua morte, não exalava nenhum mau odor e se manteve flexível. A
multidão se aproximava com terços, escapulários, medalhas e flores, para os
transformar em relíquias.
Desaparecia
nas vésperas da Revolução Francesa, que se abateu sobre os altares e os tronos
e votou ao desprezo Jesus Cristo, sua Igreja, seus sacerdotes e seus
religiosos. Mas os santos não morrem: seus ossos, suas vestimentas, suas
menores relíquias operam efeitos que ultrapassam o poder dos reis. Mais de 50
pessoas foram curadas, instantaneamente, pelo simples contato com alguma
relíquia sua, nos anos que se seguiram.
Na madrugada de 26 de maio de 1839,
101 tiros de canhão anunciavam sua solene canonização pelo Papa Gregório XVI.
Pio IX o proclamaria como Doutor excelente, luz da Santa Igreja.
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Fonte
de referência:
Pe.
Berthé, CSSR -- Saint
Alphonse de Liguori, tomos I e II -- Librairie de la
Sainte-Famille, Paris, 1906.
OBS: OS DESTAQUES SÃO MEUS.
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