Prezado Mateus,Salve Maria!
Diante de seu questionamento e da dificuldade de encontrar
tal resposta dentro do ensinamento oficial da Igreja católica, á altura que
você merece Eu Edgar resolvi mandar seu questionamento para um sacerdote sábio
e que com certeza poderia ajudar. Trata-se de Monsenhor José Luiz Marinho
Villac que tem uma coluna na Revista Catolicismo chamada “A palavra do
sacerdote” onde o mesmo responde a diversos questionamentos,dúvidas dos
leitores da revista. E justamente um dos leitores digamos “premiados” fui eu
agora na edição de Dezembro e em fim sua pergunta foi respondido pelo referido
sacerdote.
Eu vou postar a resposta na integra aqui,mas se quiser também
pode conferir no seguinte endereço:
A Seguir então a resposta do Monsenhor ao seu questionamento
que estará em Itálico.
Resposta — A pergunta de nosso missivista pode
interessar não somente aos jovens leitores desejosos de praticar algum esporte
de autodefesa, mas também aos pais que, no intuito de dar uma boa formação e
distração sadia a seus filhos, pensam na possibilidade de matriculá-los em
alguma academia de artes marciais, como karatê, judô etc.
Dentro da finalidade desta coluna, três aspectos
do problema podem ser estudados: a prática de um esporte em geral; o
aprendizado de técnicas de autodefesa; e a questão das artes marciais de origem
oriental.
Quanto ao primeiro aspecto, ou seja, a
conveniência da prática do esporte e das condições para ele ser praticado de
uma maneira moralmente proveitosa, de modo particular em se tratando de moças,
esta coluna já o tratou na edição de fevereiro de
2016
Legítima defesa, segundo o Catecismo
Legítima defesa, segundo o Catecismo
Em
princípio é perfeitamente lícito, segundo a doutrina católica, o aprendizado de
técnicas de defesa pessoal
No que se refere ao aprendizado de técnicas de
autodefesa – que, como diz o nosso missivista, se tornaram cada vez mais
necessárias à vista do aumento de todo tipo de violência na sociedade atual –,
trata-se no fundo de uma das formas que pode tomar a legítima defesa.
Em seu artigo sobre o 5° Mandamento da Lei de
Deus, “Não matarás” (Ex 20, 13), o Catecismo da Igreja Católica explica, nos
parágrafos 2263-2265, que a legítima defesa não é homicídio, porque “do ato de
defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a conservação da própria vida;
outro, a morte do agressor”, este segundo efeito estando “para além da
intenção” de quem se defende. De fato, “o amor para consigo mesmo permanece um
princípio fundamental de moralidade” e, portanto, é “legítimo fazer respeitar o
seu próprio direito à vida”, já que “se está mais obrigado a velar pela própria
vida do que pela alheia”.
O Catecismo vai até mais longe e afirma que a
“legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para
aquele que é responsável pela vida de outrem”.
Se o uso de armas é legítimo para defender a
própria vida, a fortiori é lícito uma pessoa aprender técnicas muito eficazes
de defesa pessoal para proteger a integridade física, a honra ou os bens
próprios ou do próximo. Portanto, é perfeitamente lícito, segundo a doutrina
católica, o aprendizado de técnicas de defesa pessoal.
Vigilância necessária na prática de certas lutas
Nas
religiões orientais e nas correntes da Nova Era o “espírito” se confunde com a
energia divina que anima todo o universo.
A questão das artes marciais de origem oriental é
mais delicada de tratar, uma vez que elas podem ser consideradas ou como
simples esportes – o judô, por exemplo, passou a ser uma disciplina olímpica
nos Jogos de Tóquio de 1964 – ou como uma via espiritual.
Enquanto mera atividade esportiva ou de
autodefesa, e desde que fique nesse âmbito, a prática das artes marciais
orientais não apresenta maior dificuldade, porque elas se assemelham a outras
formas ocidentais de esportes de combate, que é lícito praticar desde que não
haja risco desproporcionado para a vida ou a integridade física dos
esportistas.
Mas ditas artes marciais apresentam certos
problemas delicados, se encaradas enquanto técnicas de desenvolvimento
espiritual. Para compreender bem o problema é preciso fornecer algumas
informações, ainda que sumárias e parciais, da origem e desenvolvimento das
artes marciais no Oriente. Para simplificar, vamos tomar como exemplo as artes
marciais japonesas.
Os leitores devem ter notado que todas as artes
marciais japonesas têm como sufixo a sílaba “do”: ju-do, aiki-do, karate-do,
kiu-do. O ideograma “do”, que se pode também ler “michi”, significa o caminho,
a via, a rota. Trata-se da via espiritual seguida pelo praticante de uma arte
marcial (um budo) para o desenvolvimento integral de sua pessoa, sobretudo na
sua dimensão espiritual. No fundo, é um modo de vida apresentado como ideal por
um mestre-guru, que a pessoa aceita seguir para tornar-se um homem de caráter,
um justo dotado de princípios e convicções que respeita a natureza de sua
humanidade.
Um verdadeiro budo não adquire apenas um saber
técnico que o torna eficaz em uma forma de combate. Ele se distingue sobretudo
pelo seu comportamento, cujas raízes estão no código de honra dos samurais
(bushido) e nas regras de vida prescritas pelos antigos mestres espirituais,
consideradas como base para a reta compreensão daquela arte marcial.
Como diz Peter Lewis, um divulgador dessa “via”
no Ocidente, “a essência das artes marciais está no fato de os combatentes não
visarem unicamente vencer a resistência do adversário, mas também conhecer o
próprio ‘eu’ para poderem viver em harmonia com o universo. Em outras palavras,
o combate passou de um simples instinto animal, natural, a uma ciência exata
influenciada pelas doutrinas religiosas orientais, ensinadas há milhares de
anos por aqueles grandes sábios e filósofos que descobriram como, canalizando
as próprias energias através das artes marciais, a mente, o corpo e o espírito
se unem num só ‘eu’, tornando assim possível a perfeita harmonia do ser com a
natureza e o universo”.
De fato, nas religiões orientais e nas correntes
da Nova Era o “espírito” se confunde com a energia divina que anima todo o
universo. Desse conceito panteísta deriva a noção de “ki”, muito popular entre
os adeptos das artes marciais, a qual se refere à parcela de energia cósmica
inerente a cada ser existente (no caso do homem, residente no abdômen) e que se
trataria de condensar e liberar no golpe assestado no adversário (daí o costume
de proferir o grito de combate ki-ai!, ou seja, “exalação”, na fase decisiva da
aplicação de uma técnica).
Essa filosofia panteísta impregna toda a
encenação e prática das artes marciais orientais, desde o mokuso – ou
meditação, no começo e no fim do treinamento, sentado no dojô (literalmente,
“lugar para o estudo da Via”, que era originalmente a plataforma de meditação
budista, mas virou o espaço para treinamento marcial) –, passando pelas
saudações ao instrutor (sensei), até o aprendizado dos kata, movimentos simples
e recorrentes, alternando contrações e descontrações, e destinados, pelo menos
alguns deles, a unificar o corpo, o espírito e a alma.
Vigilância quanto á infiltração de religiões pagãs
A
filosofia panteísta impregna toda a encenação e prática das artes marciais
orientais, a começar pelo mokuso – ou meditação, no começo e no fim do
treinamento, sentado no dojô (literalmente, “lugar para o estudo da Via”)
À vista do referido acima, o leitor compreenderá
a dificuldade em dar uma resposta simples a uma questão tão complexa, a qual se
reverte no seguinte: nas artes marciais orientais – praticadas não como simples
esporte, mas como autêntica via de desenvolvimento pessoal – é possível separar
as técnicas de combate e os exercícios de treinamento dos pressupostos
filosóficos errados que lhes deram origem e dos rituais que os encapsulam? Em
outras palavras, é possível “cristianizar” as artes marciais enquanto possível
via espiritual e transformá-las em algo análogo aos torneios dos cavaleiros
medievais em preparação para o combate? Ou estão elas intrínseca e
inseparavelmente unidas às suas origens pagãs?
Para nós, ocidentais, cônscios da nossa própria
personalidade individual e formados pela cultura católica na ideia de um Deus
pessoal e transcendente, isso parece viável. Mas será possível para cristãos
orientais imersos numa cultura impregnada pela ideia da imanência da energia
divina no universo e de um futuro desaparecimento dos indivíduos no “Todo
universal”? Cabe dizê-lo aos fiéis católicos e aos pastores verdadeiramente
zelosos residentes nessas regiões pagãs.
Mas há uma obrigação certa para todos os
católicos dos nossos dias, do Oriente e do Ocidente: é o dever de abrir os
olhos para a crescente infiltração das religiões pagãs e do New Age, inclusive
em nossas paróquias, sob o pretexto da prática de yoga ou de artes marciais.
Tendo bem presente que na casa do Pai há muitas moradas, mas que o único
Caminho para nos santificarmos e chegarmos até ela é Jesus Cristo, Nosso
Senhor, uma vez que ninguém vai ao Pai senão por Ele (Jo 14, 6).
Até Aqui foi a resposta do sacerdote Monsenhor
José Luiz Marinho Villac
Caro Mateus,Espero sinceramente que esta resposta
tenha lhe ajudado,outras dúvidas não hesite em entrar em contato conosco,será
um prazer ajudar.
Ad Majorem Dei Gloriam,
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