domingo, 15 de abril de 2018

RESPOSTAS CATÓLICAS: Pretendo praticar a autodefesa, porque a considero de suma importância nos dias convulsionados de hoje. Ela me possibilitará também participar de campeonatos e conseguir algum dinheiro para ajudar em casa. Pergunto se há alguma posição da Igreja quanto às artes marciais?


Prezado Mateus,Salve Maria!

Diante de seu questionamento e da dificuldade de encontrar tal resposta dentro do ensinamento oficial da Igreja católica, á altura que você merece Eu Edgar resolvi mandar seu questionamento para um sacerdote sábio e que com certeza poderia ajudar. Trata-se de Monsenhor José Luiz Marinho Villac que tem uma coluna na Revista Catolicismo chamada “A palavra do sacerdote” onde o mesmo responde a diversos questionamentos,dúvidas dos leitores da revista. E justamente um dos leitores digamos “premiados” fui eu agora na edição de Dezembro e em fim sua pergunta foi respondido pelo referido sacerdote.

Eu vou postar a resposta na integra aqui,mas se quiser também pode conferir no seguinte endereço:


A Seguir então a resposta do Monsenhor ao seu questionamento que estará em Itálico.

Resposta — A pergunta de nosso missivista pode interessar não somente aos jovens leitores desejosos de praticar algum esporte de autodefesa, mas também aos pais que, no intuito de dar uma boa formação e distração sadia a seus filhos, pensam na possibilidade de matriculá-los em alguma academia de artes marciais, como karatê, judô etc.

Dentro da finalidade desta coluna, três aspectos do problema podem ser estudados: a prática de um esporte em geral; o aprendizado de técnicas de autodefesa; e a questão das artes marciais de origem oriental.
Quanto ao primeiro aspecto, ou seja, a conveniência da prática do esporte e das condições para ele ser praticado de uma maneira moralmente proveitosa, de modo particular em se tratando de moças, esta coluna já o tratou na edição de fevereiro de 2016
Legítima defesa, segundo o Catecismo




Em princípio é perfeitamente lícito, segundo a doutrina católica, o aprendizado de técnicas de defesa pessoal

No que se refere ao aprendizado de técnicas de autodefesa – que, como diz o nosso missivista, se tornaram cada vez mais necessárias à vista do aumento de todo tipo de violência na sociedade atual –, trata-se no fundo de uma das formas que pode tomar a legítima defesa.
Em seu artigo sobre o 5° Mandamento da Lei de Deus, “Não matarás” (Ex 20, 13), o Catecismo da Igreja Católica explica, nos parágrafos 2263-2265, que a legítima defesa não é homicídio, porque “do ato de defesa pode seguir-se um duplo efeito: um, a conservação da própria vida; outro, a morte do agressor”, este segundo efeito estando “para além da intenção” de quem se defende. De fato, “o amor para consigo mesmo permanece um princípio fundamental de moralidade” e, portanto, é “legítimo fazer respeitar o seu próprio direito à vida”, já que “se está mais obrigado a velar pela própria vida do que pela alheia”. 

O Catecismo vai até mais longe e afirma que a “legítima defesa pode ser não somente um direito, mas até um grave dever para aquele que é responsável pela vida de outrem”.

Se o uso de armas é legítimo para defender a própria vida, a fortiori é lícito uma pessoa aprender técnicas muito eficazes de defesa pessoal para proteger a integridade física, a honra ou os bens próprios ou do próximo. Portanto, é perfeitamente lícito, segundo a doutrina católica, o aprendizado de técnicas de defesa pessoal.

Vigilância necessária na prática de certas lutas

Nas religiões orientais e nas correntes da Nova Era o “espírito” se confunde com a energia divina que anima todo o universo.

A questão das artes marciais de origem oriental é mais delicada de tratar, uma vez que elas podem ser consideradas ou como simples esportes – o judô, por exemplo, passou a ser uma disciplina olímpica nos Jogos de Tóquio de 1964 – ou como uma via espiritual.

Enquanto mera atividade esportiva ou de autodefesa, e desde que fique nesse âmbito, a prática das artes marciais orientais não apresenta maior dificuldade, porque elas se assemelham a outras formas ocidentais de esportes de combate, que é lícito praticar desde que não haja risco desproporcionado para a vida ou a integridade física dos esportistas.

Mas ditas artes marciais apresentam certos problemas delicados, se encaradas enquanto técnicas de desenvolvimento espiritual. Para compreender bem o problema é preciso fornecer algumas informações, ainda que sumárias e parciais, da origem e desenvolvimento das artes marciais no Oriente. Para simplificar, vamos tomar como exemplo as artes marciais japonesas.

Os leitores devem ter notado que todas as artes marciais japonesas têm como sufixo a sílaba “do”: ju-do, aiki-do, karate-do, kiu-do. O ideograma “do”, que se pode também ler “michi”, significa o caminho, a via, a rota. Trata-se da via espiritual seguida pelo praticante de uma arte marcial (um budo) para o desenvolvimento integral de sua pessoa, sobretudo na sua dimensão espiritual. No fundo, é um modo de vida apresentado como ideal por um mestre-guru, que a pessoa aceita seguir para tornar-se um homem de caráter, um justo dotado de princípios e convicções que respeita a natureza de sua humanidade.

Um verdadeiro budo não adquire apenas um saber técnico que o torna eficaz em uma forma de combate. Ele se distingue sobretudo pelo seu comportamento, cujas raízes estão no código de honra dos samurais (bushido) e nas regras de vida prescritas pelos antigos mestres espirituais, consideradas como base para a reta compreensão daquela arte marcial.

Como diz Peter Lewis, um divulgador dessa “via” no Ocidente, “a essência das artes marciais está no fato de os combatentes não visarem unicamente vencer a resistência do adversário, mas também conhecer o próprio ‘eu’ para poderem viver em harmonia com o universo. Em outras palavras, o combate passou de um simples instinto animal, natural, a uma ciência exata influenciada pelas doutrinas religiosas orientais, ensinadas há milhares de anos por aqueles grandes sábios e filósofos que descobriram como, canalizando as próprias energias através das artes marciais, a mente, o corpo e o espírito se unem num só ‘eu’, tornando assim possível a perfeita harmonia do ser com a natureza e o universo”.

De fato, nas religiões orientais e nas correntes da Nova Era o “espírito” se confunde com a energia divina que anima todo o universo. Desse conceito panteísta deriva a noção de “ki”, muito popular entre os adeptos das artes marciais, a qual se refere à parcela de energia cósmica inerente a cada ser existente (no caso do homem, residente no abdômen) e que se trataria de condensar e liberar no golpe assestado no adversário (daí o costume de proferir o grito de combate ki-ai!, ou seja, “exalação”, na fase decisiva da aplicação de uma técnica).

Essa filosofia panteísta impregna toda a encenação e prática das artes marciais orientais, desde o mokuso – ou meditação, no começo e no fim do treinamento, sentado no dojô (literalmente, “lugar para o estudo da Via”, que era originalmente a plataforma de meditação budista, mas virou o espaço para treinamento marcial) –, passando pelas saudações ao instrutor (sensei), até o aprendizado dos kata, movimentos simples e recorrentes, alternando contrações e descontrações, e destinados, pelo menos alguns deles, a unificar o corpo, o espírito e a alma.

Vigilância quanto á infiltração de religiões pagãs

A filosofia panteísta impregna toda a encenação e prática das artes marciais orientais, a começar pelo mokuso – ou meditação, no começo e no fim do treinamento, sentado no dojô (literalmente, “lugar para o estudo da Via”)

À vista do referido acima, o leitor compreenderá a dificuldade em dar uma resposta simples a uma questão tão complexa, a qual se reverte no seguinte: nas artes marciais orientais – praticadas não como simples esporte, mas como autêntica via de desenvolvimento pessoal – é possível separar as técnicas de combate e os exercícios de treinamento dos pressupostos filosóficos errados que lhes deram origem e dos rituais que os encapsulam? Em outras palavras, é possível “cristianizar” as artes marciais enquanto possível via espiritual e transformá-las em algo análogo aos torneios dos cavaleiros medievais em preparação para o combate? Ou estão elas intrínseca e inseparavelmente unidas às suas origens pagãs?

Para nós, ocidentais, cônscios da nossa própria personalidade individual e formados pela cultura católica na ideia de um Deus pessoal e transcendente, isso parece viável. Mas será possível para cristãos orientais imersos numa cultura impregnada pela ideia da imanência da energia divina no universo e de um futuro desaparecimento dos indivíduos no “Todo universal”? Cabe dizê-lo aos fiéis católicos e aos pastores verdadeiramente zelosos residentes nessas regiões pagãs.

Mas há uma obrigação certa para todos os católicos dos nossos dias, do Oriente e do Ocidente: é o dever de abrir os olhos para a crescente infiltração das religiões pagãs e do New Age, inclusive em nossas paróquias, sob o pretexto da prática de yoga ou de artes marciais. Tendo bem presente que na casa do Pai há muitas moradas, mas que o único Caminho para nos santificarmos e chegarmos até ela é Jesus Cristo, Nosso Senhor, uma vez que ninguém vai ao Pai senão por Ele (Jo 14, 6).

Até Aqui foi a resposta do sacerdote Monsenhor José Luiz Marinho Villac

Caro Mateus,Espero sinceramente que esta resposta tenha lhe ajudado,outras dúvidas não hesite em entrar em contato conosco,será um prazer ajudar.

Ad Majorem Dei Gloriam,

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