Após a produção do mais novo filme sobre o Padre Pio de
Pietrelcina, o ator Shia Labeouf se converteu ao catolicismo.
Conhecido por filmes como Corações de Ferro e pela franquia Transformers, Labeouf vinha passando por várias crises em sua vida pessoal e não era raro aparecer na imprensa por causa de alguma polêmica.
O ator relatou que a sua situação pessoal era tão desesperadora
que ele já não sentia mais vontade de viver ou de trabalhar. Mas, ao estudar
para interpretar o famoso santo, Shia se aproximou da religião católica e,
segundo ele, essa experiência transformou completamente a sua vida.
“Interpretar o padre Pio não
foi apenas um papel. O filme salvou a minha vida.”
Shia Labeouf
Em entrevista ao bispo Robert Barron1, da
diocese de Rochester, na Califórnia, o ator contou como aconteceu o seu
processo de conversão.
Traduzimos
alguns trechos da entrevista para compartilhar essa história inspiradora com
você.
Confira
abaixo o relato do ator:
Uma experiência imersiva
“Gosto
de experiências imersivas. Gosto de estar completamente envolvido nos papéis
que eu interpreto. E, de certa forma, penso que existe uma correlação entre o
trabalho do ator e o trabalho do sacerdote. Não estou dizendo que o sacerdote é
um ator, porque isso seria diminuir a natureza sagrada do seu ofício, mas ele também
está realizando uma performance: ele está reproduzindo com os seus gestos os
últimos momentos da vida de Cristo”.
“E
essa foi a primeira forma como abordei a tarefa de representar padre Pio: o
modo como ele rezava a missa era completamente imersivo, assim como a minha
atuação precisava ser imersiva. Uma missa do padre Pio era algo que tinha vida.
Não era apenas um ritual, era uma verdadeira jornada que você não sabia como
iria acabar”.
“A experiência era tão intensa que,
quando ele chegava ao fim dessa jornada, ele estava escorrendo suor, pingando,
com o corpo exausto. Era como se ele tivesse ido para a guerra. De fato, era como se ele
tivesse passado pela experiência da morte e da ressurreição. Era algo
extremamente emocionante, que emocionava as pessoas”.
“Quando
você participa de uma missa que é muito bem realizada, você sente que é como se
um grande segredo estivesse sendo compartilhado com você. E com as boas
atuações acontece a mesma coisa: quando você assiste a uma boa atuação, você
diz: ‘Uau! Essa pessoa está compartilhando um grande segredo comigo’. É algo
que se conecta com uma região mais profunda do teu ser. Ali, na tela, alguém
está expressando algo que está dentro de você. Comigo acontece algo muito
parecido com essa experiência quando eu participo de uma boa missa”.
Uma “coincidência” divina
“Eu
entrei nesse projeto quando a minha vida estava toda bagunçada. Eu estava
saindo do inferno. Não entrei no projeto voluntariamente, com a melhor
disposição do mundo. Não. Eu não queria mais ser ator. A minha vida estava um
caos. Eu tinha magoado várias pessoas. Eu estava sentindo uma culpa muito
profunda, uma vergonha muito profunda, e eu nem queria mais sair de casa. Na
verdade, eu sentia uma profunda vontade de não estar mais aqui”.
“Antes
de acontecer isso, antes da minha vida ter desmoronado, a ideia que eu tinha de
Deus era de que ele era como as outras coisas da minha vida, como a arte e o
amor, por exemplo. E, como sou um artista, eu geralmente me via numa posição
meio divina: era eu quem tinha o controle da situação. Durante a minha vida
inteira, me foram ditas coisas como: ‘você é responsável pela tua vida; você
precisa fazer o melhor possível com aquilo que lhe foi dado; você precisa ser
uma pessoa boa, se casar, ter uma casa, um emprego; enfim, você é o responsável
pela tua vida. E se você se esforçar, tudo dará certo. Só depende de você’”.
“E eu
sentia que era bem assim, mesmo. Isso fazia com que fosse difícil acreditar em
Deus. Porque eu pensava que as minhas habilidades para controlar a vida é que
me fariam com que eu fizesse algo significativo”.
“Então, quando todas as minhas ideias e
os meus planos individuais desmoronaram, quando as minhas ações começaram a
afetar negativamente a vida das outras pessoas, eu ‘joguei a toalha’ e disse
para mim mesmo: ‘meus planos são lixo. Eu não quero mais continuar desse
jeito’. E foi então que me chamaram para interpretar o padre Pio. Por isso me pareceu que foi
algo planejado por Deus. Um tipo de matemática celeste, uma coincidência tão
grande que não pode ser apenas coincidência”.
Entrando no universo católico
“Enfim, como eu disse antes, a minha
vida estava um caos e então eu comecei a participar de um grupo, como uma
espécie de direção espiritual. Nós nos reuníamos pelo zoom e um dia, no chat, um dos
membros do grupo, que era o Abel Ferrara, me perguntou se eu conhecia o padre
Pio. É claro que eu não sabia nada sobre o padre Pio”.
“O
Abel nem é católico, ele é budista, mas já fazia muito tempo que ele vinha
preparando esse projeto, é algo bem pessoal para ele, a família dele é da mesma
região do padre Pio, essas coisas. Enfim, ele me falou do padre Pio e então eu
comecei a pesquisar sobre a sua vida e aceitei participar do projeto”.
Ninguém queria
trabalhar comigo. Ninguém falava comigo, inclusive a minha mãe.
“Na
verdade, minha primeira reação foi puramente egoísta. Porque, como eu falei, eu
não estava mais na indústria. Ninguém queria trabalhar comigo. Ninguém falava
comigo, inclusive a minha mãe. Então, quando recebi o convite, minha primeira
reação foi pensar: ‘Isto é um milagre! É a minha grande chance de voltar à
ativa’. E então meu ego prevaleceu. Foi por causa desse ego que eu comecei a
pesquisar sobre a vida do padre Pio, não por causa do meu catolicismo ou do meu
anseio por Deus”.
“Então
eles me disseram: ‘Se você vai interpretar esse papel, você vai precisar fazer
uma pesquisa profunda. Procure por algum seminário católico’. O seminário mais
próximo de onde eu morava era o de São Lourenço. Então peguei minha caminhonete
e estacionei lá. E comecei a morar no estacionamento. Comecei a imergir naquele
mundo. E enquanto eu estava lá, eu enviava vídeos para o Abel Ferrara, que na
época estava trabalhando no roteiro. E lá eu conheci esse cara, o irmão Judas,
e ele falava muito sobre os evangelhos. Ele me disse: ‘Bem, se você vai
interpretar o padre Pio, você precisa ler os evangelhos'”.
Shia Labeouf com os freis capuchinhos que lhe orientaram durante a sua pesquisa para interpretar o padre Pio
“Veja: eu nunca tinha lido os
evangelhos. Eu tinha lido todos os livros do Sam Harris. Eu tinha visto todos
os vídeos do Ted
Talks. Eu era muito bom em contradizer
o catolicismo. Isso fazia com que eu me sentisse superior. Por
exemplo: se eu me encontrasse com um bispo, eu tinha que humilhar ele com meus
argumentos, pois isso me dava uma sensação de poder. Acho que todas as pessoas
seculares sentem isso: a sensação de controle. Você se sente bem quando sente
que está no controle da situação. Eu era esse cara”.
“Enfim,
estou em São Lourenço. Começo a ler os evangelhos. E começo a viver dentro
desse mundo católico. Havia uma irmã da ordem do sagrado coração de Jesus que
começou a me catequisar. Então todos os dias eu acordava cedo, ia para o
encontro com essa irmã, depois eu me encontrava com o irmão Judas e depois eu
ainda tinha um encontro com o padre James”.
“De
repente, quando vi eu estava vivendo com eles. Nós comíamos, trabalhávamos e
ríamos juntos. Ninguém me pediu para assinar nada, ninguém pedia nada de mim,
sabe? Nós simplesmente convivíamos. E foi assim que eu comecei a fazer parte
desse mundo. Que eu mergulhei completamente nele”.
“E é
muito curioso como tudo isso só aconteceu por causa do meu ego. Porque eu não
teria feito nada disso se, lá no começo, eu não tivesse pensado ‘preciso salvar
a minha carreira’. E o que aconteceu depois, quando eu já estava imerso nesse
universo, foi que eu me senti ‘enganado’. Não no mau sentido, mas é como se
tivessem me ‘pregado uma peça’, sabe?”
Aprendendo a ficar em silêncio
“Então
aconteceu que o irmão Judas precisou se mudar de São Lourenço. Ele foi chamado
para ser arquivista em outro lugar e foi substituído pelo irmão Alex. E o irmão
Alex era uma pessoa completamente diferente, com outro carisma. Muito devoto,
muito piedoso. E eu não sabia nada sobre oração. Eu sou um cara muito ativo,
muito enérgico; eu não sabia nada sobre silêncio, sobre meditação.
Inconscientemente eu pensava assim: ‘Tenho um celular aqui no meu bolso que
pode me oferecer todas as coisas que eu preciso para alimentar o meu ego. Não
preciso de silêncio’. Eu achava que a meditação era um tipo de recreação.
Achava que a oração era apenas um monte de palavras decoradas, tipo um
monólogo. E então o irmão Alex pegou e me disse assim: ‘Entre na capela e
apenas fique em silêncio. Sente lá e fique quieto’”.
“Depois,
uma homilia sobre a oração simplificou muito o processo para mim. Porque, como
eu falei, sou um cara prático. Não gosto de nada muito esotérico. Gosto de
coisas práticas, de ações que podem ser seguidas”.
“Foi
quando conheci essa explicação da oração como quatro passos que podem ser
seguidos: ‘O silêncio leva aos bons pensamentos; os bons pensamentos levam às
boas ações; e as boas ações levam à paz’. Isso mudou a minha vida”.
“Nessa
época, eu também estava aprendendo a rezar o rosário. Eu não sabia todas as
orações, nem a sequência exata. Enfim, estava aprendendo. Mas o que eu sabia já
era suficiente para perceber que a prática de rezar o rosário era um momento de
pausa. Minha cabeça para. E eu acho que isso acontece com várias pessoas. É
algo tátil que tira você do cognitivo e te coloca no mundo físico. É uma oração
material que faz com que cesse o ruído que existe em nossa cabeça, ela silencia
esse monólogo do ‘eu quero, eu preciso’, o animal que existe em nós”.
“O rosário é algo que faz com que eu me sinta presente. É algo que está aqui. Algo que eu posso segurar com as mãos”.
“Bem, daí chegou esse momento em que eu
já estava rezando, meditando… rezando o rosário. Aprendendo a participar bem da
missa. E então eu comecei a sentir os efeitos da missa. Eu não podia receber a
hóstia porque eu não tinha certeza se eu era batizado, mas comecei a sentir os efeitos da
missa. A sentir um tipo de alívio, a me sentir regenerado. E
eu comecei a gostar da missa em um nível em que eu já não consigo mais deixar
de ir à igreja. Passei a visitar várias igrejas diferentes. E comecei a rezar a
liturgia das horas com os freis lá em São Lourenço”.
“Para
mim, espiritualidade não é uma questão de ‘falar com as nuvens’, de entrar em
contato com o sobrenatural; é mais uma questão de mudança de perspectiva”.
“Uma das coisas que mais me encantam no catolicismo é essa
materialidade das coisas”.
“Por
exemplo, lá em São Giovanni Rotondo eles ainda preservam o coração do padre Pio
numa caixa de cristal. Então não é um conto-de-fadas, umas historinhas que você
ouve, é algo material, que você pode tocar”.
“Eu
não preciso ficar me perguntando se um santo existiu ou não quando eu posso
olhar diretamente para o coração dele”.
“Para um homem das cavernas como eu, é
necessário uma polaroid de Deus. Eu preciso dessa imagem concreta de Deus. E o
catolicismo me oferece essa imagem”.
OBS: Os destaques são meus.
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